Grândola
Há uma avenida quase sem princípio nem fim. Afinal, como se não estivessemos no Alentejo... Pensando melhor, um eterno bater de botas no asfalto, rude e militar, determinado: ouvem-se sons - Grândola Vila morena/Terra da fraternidade/O povo é quem mais ordena/ Dentro de ti ó cidade...
E esse ritmo assustador, a revolução em marcha, prossegue avenida fora. Será de temer o pior, andamos nos ecos da tomada da Bastilha, a "fraternidade" é um alçapão...
A apresentação do filme aterroriza. A pelicula tranquiliza. O bater das botas esboroa-se. Grândola, afinal, é uma terra de bem receber os forasteiros. Em cada esquina um amigo... A começar pela terceira idade.
A sombra, uma nesga de ar corrido. Uma tarde conversada. Para o Inverno, essa macaca, a Revolução! Até lá, amplas liberdades de cumprimentos a quem chega, muita simpatia dos indígenas. E a curiosidade, que é o chouriço dos anfitreões de pão aberto à espera.
Grândola transborda de gente receptiva!
Entretém-se nos seus clubes, nos seus bailaricos. Lugares sagrados de conspirações de outrora. Santuários, digamos assim. É o mal de Grândola - impossível dissociá-la da política. E das cores garridas dessa política!
Em algum desacerto com as coisas do Senhor, há Cultura. Há de haver muito mais, sem dúvida. No vazio das ruas vamos descobrindo actualidades, Grândola tem o ouvido apertado ao transistor, escuta o relato, é sua a primeira página desportiva
e as notícias chegam frescas, aí temos a equipa sportinguista para a próxima época, além do óleo emérito de Varandas e de lances capitais futebolados do futuro. Grândola sonhadora, à sombra de uma azinheira/que já não sabia a idade.
Afinal, Grândola é a despedida. Para norte e para o sul. Para o almejado Algarve de uma simpática inglesa. Para Lisboa, destino dos que regressam de férias. A estação ferroviária sem vivalma, apenas uma voz monocórdica no altifalante, anunciando os próximos comboios.... Grândola? - dada agora a fantasmagorias???