Farmácias lisboetas
O mal foi o remédio a menos. Os médicos para nada prestam! Vá lá a gente confiar neles!
O coitado, de si mesmo pouco seguro nas pernas, mal vitaminado, tomou-se de vertigens, estranha sensação que lhe apanhava o abdómen e a cabeça. E feria muito a vista, por onde o breu arrotava e se ouvia o som cavo do eco.
Valeu-lhe a vizinhaça, já no fundo das escadinhas. Nunca aquele arcaboicito contara tantos degraus tão velozmente. Descera-os de um passo só e, cá em baixo, tocou a gemer, a gemer. Combalido, sem se ter nas pernas, sugeriram-lhe tintura de iodo para o golpe na testa, uma fonte vermelha e abundante.
Que não, que não... Com mil entarameladas graças e um lenço empurrado contra a bica de sangue, entrou na farmácia logo ali. No fim das escadas, é claro. Socorrido prontamente, mil atenções em seu redor, veio o alcool desinfectante e, sob o seu efeito, despertou. A farmácia chamava-se, curiosamente, - taberna; e os seus dedos molhados naquela purificação estancaram a hemorragia. Até retomou o equilíbrio e cuidou de se lavar num pequeno recipiente, um cálice - assim chamado - emborcando o que dele sobrara. Sentiu-se novo.
Entoou um fado fatalista e, pelo sim, pelo não, pediu outra dose de remédio para a viagem, não fosse o diabo tecê-las:
- Era mais um calinhos de bagaço, fax'avor...