"Tempos rotinados, maçadores"
Maio vai a caminho de metade e este fim-de-semana apanha-me não especialmente bem disposto. Há de ser o vírus, rondando por aí, confinando as nossas ideias, quando veremos, de uma vez por todas, o F. C. Famalicão a jogar novamente?
No dealbar desta macabra história, havia encontro agendado com o F. C. do Porto. As semanas entretanto corridas têm o peso enorme das décadas, dos séculos, e proporcionam a vaga lembrança de um tal Pinto da Costa, sempre polémico, ainda vivendo, o Presidente do clube que seguia à frente na Liga principal. Mais recordamos, dada a volatilidade com que os jogadores mudam de camisola, apenas os nomes de dois ou três dos seus craques. Quando valerá a pena regressar aos jornais, analisar cientificamente as tabelas classificativas, fazer cálculos, estimativas e estatísticas, sonhar com o FCF na Europa? Tudo isto às voltas com uma cerveja, numa roda barulhenta de amigos no café…
Da televisão escapam-se notícias extraordinárias: parece que o Governo se prepara para cercar Fátima, conquanto sem propósitos persecutórios; tratar-se-á, apenas, de colocar barreiras à vinda dos peregrinos. Do meu ponto de vista, esta República está a abusar um pouco do seu laicismo, mas estou pronto a retirar o que digo se a outras crenças, lá mais para o fim do verão, também recusarem as romagens respectivas…
Chove. Os meus óculos não são dotados nem de desembaciador, nem de limpa-párabrisas. E o ir às compras impõe o uso da máscara, impossibilita-me a condução pedonal em dias assim molhados. Ainda por cima, isto é seca para permanecer, os números da expansão da Covid19 nada de bom pressagiam. Consegui marcar para uma semana depois o corte de cabelo na barbearia…
Valem os livros, o papel e a caneta. Vale a terra mole de hoje para não escalavrar o bico desta com que escrevo, coisa macia, requintada, uma pechincha de há muitos anos em loja a liquidar… Assim se vai arrastando o fim-de-semana. Com um nico de sorte acompanhado dos perdigueiros (cujo faro não alcança coronas, felizardos deles) e da ultimamente tão desaproveitada máquina fotográfica.
Enfim, para não terminar em desgraça completa, sempre lembrarei, Famalicão parece mais compostinha no capítulo dos números da doença. Estabilizou em trezentos e bastantes contaminados e vão lá semanas não sai daí. Mais: há cinco dias, dados oficiais de agora, não se verifica algum caso novo. Não sei de muito mais, nas caminhetas as vozes resultam abafadas pelas mascarilhas. A gente já nem conhece a gente! Mas não ouvi falar da morte de alguém, oxalá possamos dizer – pas de nouvelles, bonne nouvelles… É o que mais desejo aos meus conterrâneos, do fundo do coração, e, se contaminados, ao menos necessitem apenas de permanecer em casa. Assim também, claro, para todos os portugueses, arrumemos com esta porcaria daqui para fora o mais depressa possível, que muito há para carpinteirar…
(Da rúbrica Ouvi nas caminhetas, in Opinião Pública de 14.MAI.2020)