Um domingo fugidio
Ontem ao amanhecer, o sol era quente, chegava aos 30º minhotos, um brasume, ante a escala dos termómetros sulistas. Uma emoção, o cantar das fontes!
Nos caminhos da aldeia, as famílias saíram à passeata, nos costumeiros calções e fatos-de-treino. No semblante das gentes, o adeus – vai-te embora! – à doença. Em boa verdade… Mas de todos é legítima a alegria, breve que seja, - somos livres! Uma ilusão, decerto. Compreensível, salutar.
Aliás, os domingos hão de ter sido inventados para isso, não para carpir as mágoas neuróticas do amanhã segunda-feira.
Assim também me fiz ao campo. Entre o florido multicolor primaveril, uma delícia.
Os cães desencantaram um coelho, de rabo alçado á minha frente, e correram felizes as ervas bravas dos barrancos (onde iria já o coelho…), estafados, sem trelas, a cheirarem a sua identidade. Depois, quase secaram uma poça, tal a sede. No regresso, pelo estradão, o inicial receio dos libertos (- Não tenhas medo, nenhum mal te fazem… - ) e, por fim, as simpáticas boas-tardes, prazenteiras, num domingo saudável, parceiro, bem almoçado.
Ainda fui ao lago, que já prenuncia os nenúfares. Batia-lhe em cheio o sol e os peixes vinham à tona, de barbatanas preguiçosas e a cabeça fora de água. Na canícula é assim, nós mergulhamos, eles emergem e banham-se de ar seco, também a contarem os segundos e vesgos, nada percebendo. Mas muito mais discretos do que o pessoal das piscinas, tímidos, sempre sem estardalhaço. Reinando sobre a peixada, o famigerado tubarão-laranja, o Moby Dick aqui da paróquia. Uma carpa japonesa colossal sempre nos fundos esverdinhados do lago. Lenta, fantasmagórica, aparentando não ser medrosa. Tenho para mim, assim a alaranjada figura desse esqualo viesse ao de cima, havia eleições. E seria uma catástrofe…