"Do meu outro ofício"
Lembro-me ido moleiro, negro gorro enfarinhado,
o cigarrito chupado, amolecido, ao voraz quelho cuspido.
Lembro o dia inteiro de mais não se faz
senão despejar o saco serapilheiro
e as horas más da minha – só minha – camioneta
com que vinha, na sua tosse infecta, à moenda
ataviado de trigo
à mó lançado, e era pó
no regresso à minha Marieta (velha maquineta…)
o que trazia comigo.
Lembro as levadas, copiosas águas,
tantas passadas horas,
lembro enguias, quando não cobras frias
a silvar em tardes já de amoras.
Mas lembro sobretudo as mágoas
de quando o trigo desapareceu
e a serapilheira rompeu…
Foi então que a minha camioneta,
saudosa Marieta velha maquineta,
não mais gingou,
uma dor derradeira – e expirou.