Dois anos...
Em boa verdade, a ideia não entusiasmou especialmente o Pai. Mas lá se organizou um ataque aos coelhos, com alguma Família, pouca, e uns caçadores locais, amigos, que trouxeram a matilha. Não correu mal e o lanche que se seguiu foi de arromba.
Muito novo, ainda, o Pai se apaixonou pela caça. Até que em 1976, subitamente, por razões que julgo conhecer, pôs de lado a espingarda. E só voltou a pegar nela neste desbaste aos daninhos láparos, que em multidão atacavam as culturas. Em 1993, a última vez que atirámos juntos e pendurámos ambos uns bichitos à cinta.
O tempo passa muito depressa. Faz hoje dois anos, parou para o Pai. Sentirmo-nos órfãos é olharmos para trás e aguentar o peso que são os nossos filhos e netos (quem os tiver) a mirar-nos o branco das barbas e do cabelo. É o relógio a empurrar-nos para a geração do topo.
E são as saudades, a irremediável dor de já nada poder emendar. Mas, na verdade, é também um medo que se perde, porque a morte significará sempre um reencontro. De certeza, o Pai está numa eternidade de coelhos e perdizes, seu qualquer necessidade de renovar licenças e seguros. Está feliz, com a Mãe, repetindo e voltando a repetir a célebre viagem de núpcias caçando nas Astúrias.