Lição das águas
A água vem da mina por um regozito e não há quem a cale, sobretudo no seu perpétuo despenhar, levada nas armadilhas das pedras, lá em baixo no campo.
Assim a água corre e curva, a gorgolejar, parecendo tansa, desprevenida do seu rumo, desconhecedora da lei da gravidade. De tal modo, seria só monotonia - em vez de melodia e alguma navegação de folhas e pauzinhos na transparência da água, como é e vive, finissima.
Sempre ágil e esperta! Na sua inodora e incolor circunstância se vai toda a insipidez das cosméticas. É um inacabável lavar de caras esfregadas pelos musgos. E por isso, hora após hora, na sua clarividência se desmascaram as expressões e despem as mais dissimuladas intenções.
São um tribunal, uma ópera autêntica no auge da tragédia, são a mais sapiente prelecção, as águas correndo a precipitarem-se do muro. Tomemos assento junto e nada percamos do que ensinam.