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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

"Memórias do cárcere" - II

João-Afonso Machado, 24.03.20

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Manhã de entusiasmada palração entre os prisionários. Enfim um tema salutar, o futebol. Discutiam-se os maiores cérebros de tão umbricada ciência.

- Artur Agostinho! - disparei eu à toa, ávido da conversa de que a reclusão nos priva. Mas os presentes olharam-me logo, reparei bem, compadecidamente, com ternura até, fitos nas minhas alvas barbas. - Ribeiro Cristóvão! - ainda emendei, a julgar-me actualíssimo, um pós-moderno, fiel ouvinte dos relatos da Renanscença.

Não houve como não suportar a gargalhada geral. Uma avalanche das perigosas, muito cuspidas. E um nome ecoou na minha vergonhosa ignorância - Pedro (edro, edro, edro...) Guerra (erra, erra, erra...) - Pedro Guerra, então, a festejada celebridade, para mim, sem desculpa, totalmente desconhecida.

Sucumbido e calado, fui aprendendo. - Pedro Guerra, o guerreiro! - O homem dos mil saberes, o douto e o profeta; o arquivo dos mil milhares de dossiers; o arbitrólogo, como mais ninguém conhece os árbitros em Portugal; enfim, o mago da Comunicação Social desportiva.

Em suma, o cientista e o polemista. O mais humilde catedrático, o conciliador, de todos o amado. O amável. Gloriosamente, uma estrela da selecção nacional da Damaia. Expatriado político, benfiquista por adopção e do coração.

E sobretudo uma saudade dos velhos tempos de liberdade, em que os canais televisivos, sempre pluralistas, falavam de tudo o que fosse futebol - em simultâneo - e de nada mais, epidemias incluídas.