Historicamente
Falo de uma histeria deambulante, sem pernas para chegar longe e ansiando por uma companhia que jamais chegará. Sempre à vela nos ventos descontínuos da vontade. Na realidade, uma histeria igual às outras, tão capaz de guinchar e esbracejar em plena rua, como de se esconder caladinha atrás da porta.
Mas uma histeria que não se mira ao espelho e cujo relógio é mais um pretexto para fugir, assim surja a face visivel da lua... e o seu ar circunspecto e tranquilo se esfume em vozes de insulto.
Evidentemente, uma histeria egocêntrica e interesseira. Que não quer saber de distâncias, somente do seu meio pessoal de transporte. Exigente, impositiva, amante do conforto, espumando embora frases inverosímeis de aventura.
Quer chegar lá, a histeria, mas não consegue. Fica-se pelo caminho, entre intrigas e questiúnculas. Entre birras, tantas vezes mal-agradecidamente. Tentando manter-se à tona com versões muito próprias, histórias mal contadas.
É previsivel o seu rumo, de conflito em conflito até à solidão total. Sequer com uns penachos de galinha a protegê-la dos rigores do clima. Contam-no as páginas dos cronicões e as passadas de um quotidiano turbulento, já sem morada fixa, vagueando por aí em busca de pretextos para não sair de si.