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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Manhãs de eternamente

João-Afonso Machado, 01.11.19

EGAS E GATO À JANELA.jpg

Em uma dessas manhãs de sol e ruído na rua, a gente do trabalho cirandando, apregoando. No palácio, ainda o vagaroso sabor da preguiça - vagaroso, desinteressado e intenso. Nada como a preguiça, diz quem sabe. Sobretudo quando leva um safanão de qualquer charivari lá fora.

Despertaram nessa prontidão dos sentidos que tais acontecimentos proporcionam. Foi o tempo da curiosidade os trazer num foguete ao varandim. Porque estes desmandos de vizinhos têm sempre quanto baste de caricato.

O mais velho, o seu olhar muito azul, não escondia o vago receio de alguma faca a causar rasgos e sangue; o rapaz novo, maior de corpo, espreitava com severidade - tolerava mal desacatos de estranhos no silêncio das cercanias do palácio.

Mas assim mesmo ficaram observando, mudamente, depois de uma ordem breve - que alguém chamasse a polícia, aquilo não tinha jeito.

Afinal, tudo foi rapidíssimo. Posto cobro ao desaguizado, logo as mulheres das sardinhas, os carvoeiros e os aguadeiros retomaram a cantata do quotidiano. Era o tempo de um chá, umas torradas.

- Vamos para dentro, meu caro, corre uma certa brisa, nunca se sabe...

E cá fora ficaram apenas aquelas expressões e cores, o azul e o negro, o contraste entre o porte suevo defensivo e a resignada atitude do sul, - numa palavra, a saudade. Ou a eternidade.