Curiosamente, a ideia, logo à nascença, foi criada e logrou crescer sob a batuta de sete amigos que já o eram nos recuados tempos da vida estudantil.
E a ideia, tão-somente, consistia na criação de um universo onde as figuras centrais fossem os doentes do foro degenerativo mental. Mormente os que padecem do terrível (e muito frequente) Alzheimer.
Assim se constituiu, por escritura pública de 17 de Maio do corrente ano, a Casa da Memória Viva – Associação Cívica Famalicense. Uma instituição obviamente aberta a todas as colectividades e gentes da nossa terra a quem o drama dos afectados por tais males não seja indiferente.
Burocracias à parte, devo acrescentar – porque conheço o projecto desde o início – quanto me encantou o alcance dos sonhos acalentados e a quererem dar passos firmes, reais, ao longo de tantas reuniões dos fundadores. Digo assim visto não estar em causa, apenas, a angariação de fundos a reverter para o bem-estar dos doentes.
Esse é, realmente, um importantíssimo objectivo. Mas a Casa da Memória Viva pretende dar-lhes mais. Quanto possível pretende dar-lhes o retorno ao mundo, um lugar na sociedade, abrir-lhes todas as possíveis janelas à sua capacidade cognitiva.
Pretende, também, intervir na formação daqueles que, familiares ou não dos doentes, os acompanham e suprem as suas falhas, as suas limitações. Esses para quem, entretanto, foi criado o designativo de “cuidadores”.
Estamos perante um vasto campo de actividade. Ainda mais atraente se pensarmos em idosos de repente transportados aos dias de outrora através da reconstituição das indumentárias, das imagens, da música, de tudo quanto poderão guardar ainda na memória, geralmente os quadros mentais mais antigos.
Ou seja, a componente museológica é um outro propósito da Casa da Memória Viva, na sequência dessa tentativa de recriação de uma realidade capaz de despertar a atenção e os sentidos de pessoas cuja existência, infelizmente, vai adormecendo.
Todos estes planos só vingarão com a participação de um número elevado – o mais elevado possível – de famalicenses: em prol dos afectados por doenças que um dia podem bater à porta de qualquer um de nós; buscando e alcançando a consolidação de um projecto decerto pioneiro a nível nacional
Ouvi nas caminhetas, a fé no seu sucesso é total. A seu tempo surgirão os espaços necessários, os meios técnicos adequados, porque gente é quem já vai muito batendo à porta da Associação.
Uma primeira iniciativa pública de divulgação, está agendada para o próximo dia 21 de Setembro (Dia Mundial da Doença de Alzheimer), entre as 10 e as 12 horas, no Parque da Juventude, com uma pequena visita por trechos da cidade antiga. Apareçam todos!
(Nesse sentido, aqui fica o contacto para eventuais inscrições: www.casamemoriaviva.pt).
(Da rúbrica Ouvi nas Caminhetas, in Opinião Pública de 12.SET.2019)