Olivenç(z)a
Em 1801, na sequência da Guerra das Laranjas, a Espanha apoderou-se de Olivença, vila nossa desde o reinado d'El-Rei D. Dinis. O corpo português saía assim dilacerado, nas vésperas das invasões napoleónicas, e, só em 1817, no Congresso de Viena, os espanhois reconheceram a soberania lusa sobre essa parcela do território nacional: entregá-lo-iam na mais próxima oportunidade... Ainda hoje nós, portugueses, continuamos à espera. Ou, se calhar, não.
Nada se fez, objectivamente. Olivença não vinha de volta e, a partir de 1840, nesse nosso bocado, alma portuguesa que português continuava a falar, os espanhois impuseram a lingua castelhana sob castigo de quem não a usasse. Mais de um século corrido ainda era assim. Numa antiga praça em que tudo é da lavra de cá. Começando pelo castelo.
Olivença tornou-se Olivenza, enfeudada na Comunidad estremenha espanhola, distrito de Badajoz. Lado a lado, portugueses e "nuestros hermanos": terra bilingue, ainda que às escondidas. O que ela tinha para mostrar ao mundo, tudo vinha do génio pátrio. Vale falar da igreja de Santa Maria Madalena, construção dos anos do nosso D. Manuel I, um requinte na sua entrada.
E ninguém apagou, nem apagará, as armas do nosso Reino, o obreiro desta Vila. Nem mesmo a sede do actual ayuntamento, edifício também manuelino:
Portanto, Olivença continua nossa. Continua nós, esse um dogma da minha fé. Sobreviveu a um século e meio de restrições linguístas, houve que aguardar dias mais diplomáticos. Depois de o português, sempre falado, ser considerado um dialecto menor, próprio das gentes antigas, rurais, roçando a ignorância total.
Até que, em 2010, as placas toponímicas estabeleceram o paralelo entre as actuais designações e as nossas, as verdadeiras. Muito embora ainda hoje, alguns dos nomes originais das artérias de lá continuem no palavrear do povo olivense.
Gentilezas dos de Castela... Reconheça-se, indo um pouco além dessa tradução. Como é o caso da actual Rua Duque do Cadaval:
Não chega, porém. E visitar Olivença foi percorrer o Portugal esquecido. Feito estúpido - eu - de pessoa em pessoa perguntando sempre a sua nacionalidade. Aqui, a nossa língua ainda por todos é entendida. E houve quem mostrasse o seu cartão de cidadão português, sinal de um pé em cada banda. Por todas as estreitas vielas, nem um milímetro diferentes das alentejanas.
Realce-se - mesmo quem andando, como andei, de um para o outro a perguntar a origem do seu berço, - a extrema amabilidade dos de lá. Os ganhadores também não podiam proceder de outro modo. Mas já aos olivens(z)es de agora será dificil recordar os seus avós portugueses de 1801... Olivença é espanhola... por usucapião. Eles usucapiaram-na a nós, foi o que foi.