Novas da Pocariça
Cambaleou, - mas não esqueceu o destino do altar. Levava pelo braço a filha casadoira, e a sua expressão saudosa de quem perdeu o sabiá era absolutamente compreensivel. Mas a cerimónia correu numa toada empolgante e todos acharam a igreja lindíssima. O cortejo nupcial partiu a pé, assim atravessou a urbe. Ia começar a festa profana.
A maior atracção consistia nas feras. Não fui capaz de conter a minha curiosidade e desci às catacumbas por elas. Eram tantos os cristãos de olhos postos nos céus, aguardando a sua vez!
Mostraram-mas ainda nas jaulas. Esticadas, dengosas, pareciam dormitar, tostadas do calor. Sem sequer um garfo, um canivete, com que me defendesse, arreceei-me. Mas o campino de serviço - e uma destemidíssima senhora - rindo-se da minha frouxidão, deitaram as mãos a um deles, um matulão, e assim fizeram questão de ser fotografados.
Não demorou, subiam à praça, investindo sempre. E jamais na Pocariça se bandarilhou com tanta arte e engenho. E, sobretudo, com tanta rapacidade.
Seguiu-se incontável fartura de iguarias. O hidromel - proveniente do Poço do Lobo, que é o Olimpo de lá. E prolongada, eterna, alheada da chuva cá fora, a noite acordou dia claro, num tonificante, telúrico, aroma de humidade.
Horas, depois, todavia, soava o alarme: e a Pocariça corria à procura dos seus caracóis, fugidos, todos, com a pluviosidade.