Apanhados (XXIII)
Dou com ele frequentemente aqui na terra: um Opel Kadett B, nascido no meado dos Anos 60. Já o fotografei parado, a dormir, com um ar avelhado e incapaz de transmitir qualquer sensação sobre essa inolvidável Década. Quando em trânsito, a sua regular presença apanha-me sempre desprevenido, com a Canon em casa ou no coldre, muito pouco à mão. Até ao último desfile de automóveis clássicos a que assisti: o Kadett caiu logo ao primeiro tiro.
Com ele viajam pais e avós de então, da mesma idade de nós de hoje. Vêm sem ar condicionado, decerto sem música para ouvir (ou talvez algum faduncho, apenas, na Emissora Nacional ou na Renascença); vêm a anos-luz dos GPS's, do Bluetooth, dos telemóveis; e vêm felizes, com as estradas por conta deles, honrados chefes de família de um tempo em que a poluição não era tema, nem as vias rápidas, nem férias a grandes distâncias, mas ser dono de um Kadett, sim, era augúrio de vida triunfal. Como agora, no capítulo dos sobreviventes do Progresso fulgurante.