A fleumática fraqueza dos nenúfares
Uma manhã calada. De início, excessivamente vazia, sem rumos diante si. Depois... calada, talvez, mas de olhos no sol, já alto, e um pé aqui, outro ali. Afinal, gente com vida. Havia muitos cães, a manhã toda foi deles.
(Percebe-se o regresso à ferrugenta amálgama de um berço cada vez mais imaginário. Ideias perdidas no Tempo, a memória já só uma estrela cadente em noites desanuviadas do espírito.)
Miudezas das horas. Estão no ar, nas cores, nos interstícios das pedras. Na água, flutuando como os nenúfares, rente à cavalgada dos cães. Entre a conversa deles, as suas gargalhadas e uma insaciável sede canina, - um pé estouvado, um flor que se afoga. Tal a sustentabilidade dos nenúfares, aliás de apreciável serenidade, como a que nos falta todos os dias.
Mas não, afora o risco, não há ruídos, nem projectos, nem relógios a tolher-lhes o berço. Frágil mas não imaginário. E a manhã prosseguiu pelas centelhas da memória já perdida dos nenúfares.