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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Isto ainda é o Porto?

João-Afonso Machado, 05.05.19

Cada vez mais me convenço, foi a minha despedida do Porto, aliás balbuciada numa mescla de idiomas - bye, au revoir - e, também, - sorry, excusez moi - tanta a cotovelada para lograr passar e a angustiante ausência de compatriotas.

Não me admiraria, há quem garanta é a volta de Soult, desta feita imparável, arrasador. E consta, na Sé, o nosso Bispo está por horas, cercado de um imenso exército protestante.

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A Foz (a velha Foz dos submarinos), venceu-a um mundo novo, tropical, povoado de aves exóticas. O tradicional nevoeiro dos idos da aliança britânica (de súbito dissolvida na amálgama invasora), sumiu ao lado das tasquinhas da Cantareira, onde comiamos pratos simples, concebidos do peixe do rio, e bebíamos canequinhas de um branco suspeito, martelado. Agora tudo é gourmet, desde a primeira tapa estrangeirada ao descoroçoante, nórdico, preço final. Coisas de gente fina, endinheirada, olho em redor e avisto dois portugueses.

É o adeus ao Porto. Ele lá vai, adiante de uma manada espanhola de bicicletas alugadas. Um chinfrim de campaínhas impacientes em terras outrora nossas... Agora, os passeios da Marginal pertencem-lhes e, do Freixo à Arrábida, o rio é patrulhado por simulacros de rabelos com ninhadas e ninhadas de turistas lá dentro.

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Sobre a pesca, estamos conversados. O pescador tripeiro, membro ilustre da 3ª idade, reformado e pachorrento, finou-se. À fome, depois dos editais que não lhe consentiam apoiar a cana nas amuradas e esperar a tarde toda o peixe viesse pelo anzol ao seu jantar. A nova tirania apoderou-se desse espaço para as suas bicicletas, as suas deambulações.

Aí por Massarelos, militares armados ordenaram-me retrocedesse, à míngua de documentos meus (decerto o passaporte) que abrissem as portas desta nova concessão do mundo global. Assim regressei à quietude e independência do Interior, na final despedida em que juraria ter ouvido o Porto salmodiar - Este corpo que abraçaste/Que já foi o teu prazer,/Vai tornar-se em pó, em terra,/Adeus, Márcia, eu vou morrer - recordando 1829, a terrível narração das derradeiras horas dos Mártires da Liberdade por Oliveira Martins, no seu Portugal Contemporâneo