Será Páscoa?
É Páscoa? Não sabemos.
A enfermeira olha os ferimentos e põe uma expressão reprovadora. Abana negativamente a cabeça. Aquelas peles brancas sobre a ferida, ainda húmida, indiciam infecção. Num instante recomenda cuidados no duche, uma luva protectora. Já a mazela devia ir secando.
Se não forem as glicinias - vias ao nascer, tão bonitas! - o que será a Páscoa? O que será a Páscoa sem ser a ressurreição do mundo? A enfermeira não diz. Seca, de meias palavras, cumprindo somente o seu dever. A refugiar-se nos médicos e nos remédios, quiçá no querer dos doentes. Ou no Destino - Deus!
Por ela aprendo a força da incerteza. As glicinias perderam a cor e o viço, tombam ao peso da desgraça. Foram estes dias todos de chuva sem a luva protectora do duche. Prematuramente velhas, esbranquiçadas, incapazes de receberem a visita pascal.
Mas será Páscoa? É, pelo menos ainda vai a tempo de ser.