Um minhoto na Capital
- É preciso reconhecer...
(dizia eu, muito conciliatório essa tarde),
- ... é preciso reconhecer que o único jardim zoológico português em condições é o de Lisboa!
E até me lembrei daquele leãozinho bebé que uma vez apanhei no da Maia, fugindo espavorido de uma pueril - mas autêntica - carga de cavalaria: centenas e centenas de crianças atrás dele, que mal corria ainda e não aprendera a trepar às árvores.
Ela (está cada vez mais bonita, mais sorridente, mais fresca) nada respondeu. Eu pedira-lhe se me acompanhava ao Zoo, onde há alguns dez anos não punha os pés. Um programa nada do seu agrado, sei bem. Mas foi suficientemente querida para não se negar. Agora bebíamos uma cervejinha fresca naquelas esplanadas preambulares, entre fotógrafos, bicharada em plástico e postais e meninos aos berros.
- Lembra-se da última vez?
perguntou de súbito, num estremeção da cadeira.
Pois não havia de lembrar! Sim, dessa última vez, vão lá os tais dez anos, acabara por me deparar com ela (está igual, está igual!), acompanhando um seu sobrinho, o Manel. E eu já de saída, com uma macaquita pequena ao meu lado. Isto desde a outra extremidade do Zoo, ninguém parecendo dar conta e aqui o idealista, no seu entusiasmo, a ver-se a cem metros de um autocarro, de um taxi, rumo ao sucesso no Norte, o homem do símio agarrado ao seu pescoço. Na Chapelaria Oliveira, pensara até, hei de comprar um condigno chapéu colonial...
Rimos imenso os dois. E, prosseguiu esta minha flor de nenúfar,
- O chimpanzézito trazia nas patas uns óculos já partidos, não era?
Pois era. Pois foi - o triste fim dos meus sonhos. A dona dos óculos descobriu aquela inocente brincadeira e veio de lá como uma fera, uns dentes enormes e aguçados...
- E você ainda levou uma dentada do bicho...
- Não, não, quem me mordeu a mão, fartei de sangrar, foi a dona dos óculos...