Estremoz
Estremoz à noite. A praça ampla do Gadanha, o primeiro passo de uma história. O lago é enorme e, no centro, essa desconcertante figura, ao que parece Saturno, a contar o tempo, a determinar as vidas. Alguém menos atento di-lo-ia Neptuno, rei dos mares. Mas não é o tridente nas suas mãos - antes a fouce terrível de que a Morte se faz acompanhar.
Na centúria de Setecentos seria a Praça de S. Brás e o lago, datando dessa altura, propunha-se dar de beber ao exército inteiro... Homens e os seus cavalos. a tropa do Regimento. A estátua chegaria após, oriunda da igreja dos Congregados.
Anda-se por ali, há muito para ver. Demais, para as pretendidas ligeiras palavras. Resta aguardar o fim da noite, o amanhecer. Percebeu-se já o castelo lá no topo.
E, à luz do dia, chegamos, enfim à Rainha Santa D. Isabel.
À sua derradeira morada em vida!
Foi ali, entre torres e o calor abrasivo do Alentejo, que a Rainha Santa morreu. Dizendo o seu testamento querer ser sepultada em Santa Clara, Coimbra, o féretro organizou-se. O seu caixão ia em cima de um burro, a viagem longa e o calor a massacrar os acompanhantes. Temeu-se uma podridão que jamais ocorreu. Sabe-se até, daquele invólucro do seu corpo emanava um cheiro de rosas. A nossa Rainha jaz para onde foi levada conforme a sua vontade.
Agora, de dia, a vista do castelo onde findou a sua vida terrena, é nítida. Indo lá, meio Alentejo pela frente dos nossos olhos. É tempo de partir.
A saída pelas portas de Santo António. Como se viessemos de épocas antigas que nos ficam na alma. Estremoz não são dois episódios - é uma crónica toda começada com Portugal, vivida nos séculos, seguramente muito mais do que um simples lugar de passagem com meia dúzia de fotografias a recordá-lo.