A águia da noite
Escurecera bastante já, era a hora do regresso, o triste pio de mais um domingo. A família parecia conformada, ia em manobras de meia-volta, mas o espanejar do arvoredo, as ramagens num súbito alvoroço, fê-la parar. E a ave saiu enorme, negra, num instante de braços abertos lá no alto.
O que seria aquilo? As opiniões eram muitas: uma gaivota (- Mas alguma vez viste uma gaivota negra? -), um corvo-marinho (- Onde inventaste isso, mulher? Os corvos andam na terra a dar cabo do milho -), até um pato (- Com tal pescoço? Só se fosse filho dum ganso! -).
O Avô elucidou então, muito de dentro da sua idade avançada, cheia de experiência e erudição:
- É uma águia da noite.
Continuava a escuridão a tomar conta do parque. O sol desaparecera completamente. E antes que o Avô entrasse em pormenores, as crianças choramingaram, pedindo as levassem para casa. A águia da noite não estaria ali por boa coisa.