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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O paparazzo dos passarecos

João-Afonso Machado, 20.02.19

IMG_0119.JPG

Aproximou-se vagarosamente, manhoso, a coberto da coluna de granito. O craque trinava ante assistência atenta, veneradora. Estava de cor de laranja no seu trono, como é da praxe, entre as ramificações do seu veleiro. Nada percebeu - o paparazzo, astuto, patilhas de proxeneta, homem sem escrúpulos, silencioso na aproximação... - assim continuou, é o ponto fraco dos astros quando a almejada fémea, o objecto do engate, anda perto, ouve, vai caindo embevecida.

O tempo desenrolou-se em minutos intermináveis. O paparazzo impacientava-se, não lhe pagavam para tanto. Queria-se uma mulher ao menos desnudada do peito para cima e beijoqueira. Um pequeno episódio de amor. E o pisco chamava, chamava, não desistia. Assobiava argumentos, mostrava as cores, subira aos cumes da embarcação. Quase valeu encostar-lhe a máquina fotográfica aos pulmões. O pateta - nada!!!

Por fim, desistiu. Toda a gente desistiu.O paparazzo, um falhado, voltou à redacção do tabloide com uma dezena de fotografias. Ouviu umas bocas foleiras do chefe e saiu, enfiado, acagaçado. Onde isto não mete fémea, nem beijos, o préstimo (a sobrevivência do artista) anda perto do zero.