Correio do Minho
À minha prezada Amiga,
Menina Catarina:
Espero que esta a vá encontrar de boa saúde, que nós por cá todos bem. E me desculpe o incómodo, não me atreveria não fosse o acaso da fonte, e da placa nela aposta, descoberta numa das minhas recentes andanças por terras das suas gentes.
A minha rica Menina decerto não conterá a fúria diante os seus dizeres. E há de apelidar-me do pior.
Mas, Menina Catarina, eu sequer quero comparações com o heróico antifascismo de tão galante Menina. Saiba, porém, aqui em casa não se votava Salazar e sempre se foi defensor de uma monarquia radicada na liberdade, no respeito pelas pessoas e por todos os valores da Modernidade séria, incluindo, claro está, os de Deus Pai Nosso Senhor. Se iriamos à Guerra? Iriamos. Iriamos porque não tinhamos o direito de não partilhar a sorte dos nossos compatriotas que a ela não podiam escapar. Se eramos socialistas? Não, redondamente não! O socialismo era o outro lado da Guerra, à escala mundial, uma imensa gula imperialista que cavalgava a nossa sociedade europeia. Ou estará tão arguta Menina a imaginar-nos militantes da Liga Comunista Internacionalista?
Com o 25/A, varrida a II República, pensámo-nos de regresso à civilização. Mas levámos em cheio com os desmandos dos admiradores da minha prendada Menina; e depois maltratados por este Estado voraz e corrupto, como agora vivemos. Pobres não são robles, diz o povo e com toda a razão.
A Menina perguntará, enfim, porquê isto tudo. Olhe minha Menina, porque sim - porque nada mudou, salvo as placas. À Menina, e aos da sua condição, continuamos a pagar impostos para os sustentar. Em troca - mandam-nos prás cativações. A Menina, a minha estremosa Menina, desculpará, mas para estes lados ainda ninguém veio contar a história do politicamente correcto. Por isso me despeço sem lhe revelar onde topei as ditas fonte e placa. E com um conselho: deixe o passado, pense no futuro, que ambos pertencem à História, seguramente um percurso, e não um instrumento do seu socialismo.
Este último, fique seu, sempre seu e só seu.
Do sempre devotamente também seu
JAM