Para este próximo ano
A corvina, toda a vida, fora o mais formidável desempenho de barbatanas que o trazia preso à barra. Há quem diga, graças também ao exagero de algumas vozes mazinhas, a acrescentar-lhe o peso, a dignidade e a braveza do troféu, a delícia do pitéu. O certo é que empreendera na corvina.
E pontualíssimo, dia após dia, na foz, lançamento sobre lançamento, já não havia solha, cavala, sargo ou mesmo robalo (quando eles vêm em cardume, aos milhares, enormes), já nada sobrava para lhe satisfazer as aspirações. Senão a corvina.
Nunca a vira. Mas estudara-a, lera muito. Empenhou-se mesmo, para comprar a cana e o carreto adequados. Encheu o velho Opel Rekord de aparelhagens e iscos, cheques, sabão e víveres, o necessário para uma ausência prolongada. No carro dormia, no cais cozinhava e mirava o horizonte, conversava com as estrelas e as marés, com a lua... e infatigavelmente pescava.
Assim decorreu um ano todo. As gentes ribeirinhas segredavam entre si, aquilo ou enviuvara sem filhos, ou endoidecera. A criançada já esgotara a curiosidade de o espreitar, sempre igual.
Conheceu o fustigar das chuvas, as navalhadas do vento frio, o sol em brasa. Sem esmorecer. De coração posto na corvina, prateada, uma boca tubaranesca, para cima de uma arroba na balança... Assim ela entrasse no rio e se deixasse cativar pelos atractivos do seu anzol.
Está lá, neste exacto momento, o lutador. Viram-no receber a encomenda pesadíssima, um farto renovar do seu stock de apetrechos. E a um apiedado daquela fé, respondeu em vibrante entusiasmo - É já este ano!!!