Penela
Penela vem dos tempos da terra de ninguém a sul de Coimbra. Nasceu numa elevação, obra de um desses condes medievais cujo nome é dificil de dizer, sempre atento ao horizonte e às hostes sarracenas que lá poderia topar.
Depois do galope de D. Afonso Henriques até Santarém e Lisboa, Penela foi sossegando. E desceu ao mundo. Até onde a vista alcançasse, as serranias só muitos séculos depois tornariam a ser invadidas pelo ruído dos motores
Entretanto, a devoção ganhou o lugar que lhe compete e as muralhas, pelo sim, pelo não, também se mantiveram de guarda.
De resto com uma função capital: a de permitir a visão da pequena vilória que brotou a partir do castelo, aos trambolhões pelo morro abaixo.
Sem comércio, quase sem serviços, é um castigo dar com a Câmara Municipal ou com o Tribunal. Naquelas paragens, até as fundamentais tascas escasseiam. A Primavera enche Penela de andorinhas e os seus ninhos nos beirais. Mas estamos quase no Inverno e o que frutifica agora é o presépio vivo. Está tudo a postos para o nascimento do Menino Jesus - S. José, sempre a carpinteirar, a vaca e o burro, as ovelhas e os pastores. E Nossa Senhora, lindíssima.
Tanto que aproveitei um momento de distracção do empenhado S. José, às voltas com o martelo e os pregos, e tirei um retrato à já quase Mãe de Cristo (a deitar-se nas palhinhas apenas no dia 25). Mostrei-o, e Ela, na sua infinita bondade, ainda me agradeceu. Obrigado estava eu, respondi. E segui à minha vida pensando que afinal tudo se deve ter passado em Penela, e não em Belém.