Apanhados (XVIII)
Naquele tempo eles eram um casal novo. Decerto com uma vaga noção, apenas, de que as bodas de prata vinham aí. A sua vida pautava-se pela pacatez, pela total ausência de sobressaltos, e os filhos davam boa conta de si. Pertenciam à "classe média baixa" e o Renault 5 assentava no seu quotidiano como uma luva.
Assim também com milhares e milhares de famílias portuguesas, por essas cidades e cidadinhas, por tantas vilórias fora. O carrito, de baixa cilindrada, era do mais económico, resistente, barato e bem assistido. Um pau para toda a colher, até para ralis e provas de velocidade.
Por alguma razão o cavalheiro se afeiçoou ao seu R5. Tratou-o bem, alimentou-o como devia, e o bichinho sobreviveu aos estragos da idade. Passeia muito aos fins de semana. E já é uma aparição, uma relíquia, depois de, entre o meado das décadas de 70 e de 80 do século passado, ser o mais frequente nas nossas estradas, um autêntico record de vendas por cá.