Correio do Minho
Meu caro V.:
O que se passou foi simples: titulava eu uns daguerreótipos feitos em terras de Castelo de Paiva quando, inadvertidamente, o azul da tinta escorregou e pingou o teu apelido na dita descrição. Mas o Miguel M. deu conta da gaffe que, tão rápido quanto possível, corrigi.
Ainda assim houve algum alvoroço. Sim, porque aquela não é a nossa linha de castelanias, de cujas torres acenamos uns aos outros; e porque nem sequer estás perto, aí no hemisfério sul, de cabeça para baixo, a ensinar o indígena. Em pleno Verão! Que saudades desse tempo em que passamos a barbacã já lançando o bacinete e a espada para o bengaleiro! E o arnês prás costas do cadeirão, a restante chaparia desaparafusada ao longo da câmara - e eu descalço, em pelota, logo no alto do torreão.
As senhoras aqui do castelo dizem-me desarrumado. Hei de as fechar numa destas latas de conserva. A propósito, já no nosso passado estio te quis perguntar - onde compraste o soberbo guarda-sol azul e branco da tua torre de menagem? Aquele sob que passavas as tardes de pichel na mão... Em algum desses vesgos infieis orientais?
Desculparás, pois, a afronta. De resto, irmos agora para o fossado era uma chatice, com esta lama toda. Aguarda e, vencendo esse inóspito equador, faz soar as trompetas e combinamos uma justa entre pagens e uns tantos picheis de cidra e folgança de parentes e amigos.
Até lá, os ventos te sejam de feição e ao capitão da nau de regresso. Te envia muito saudar o teu afeiçoado vizinho de condomínio
JAM