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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Diz (contrariada) que está mais "forte"

João-Afonso Machado, 05.10.18

REPÚBLICA-MÃE.JPG

Há já algum tempo não nos cruzávamos. Hoje encontrei-a no hipermecado e, cerimoniosamente, cumprimentei-a. Que estava muito bem, obrigado, apenas um pouco «mais forte», abusava algo, abria a boca em excesso..

(Esta recusa feminina em darem-se por gordas, estes eufemismos... A D. Repúbica dir-se-ia poder estourar a qualquer momento, de tão «forte», de tanta chouriça que havia de rilhar todos os dias...)

Com ela, a prole, endiabradíssima. E magricela, não obstante. São uns três ou quatro e apenas o mais velho me pareceu sadio. A multiplicar-se em maus exemplos. Quando eu já quase gritava - Socorro! Fugiu um fauno da Mitologia, agarrem-no! - era somente o Antoninho que abrira um pacotinho de especiarias e esperneava do nariz e dos olhos em todas as direcções.

A D. República limitou-se a sorrir. Mas já não assim com os pequenotes que mexiam ávidos na montra das frutas e das hortaliças, agarrados a pés de couve galega, de couve de Bruxelas, com se lhes mordessem as saudades do chocolate. De comestíveis menos republicanos, menos caseiros, melhor cozinhados. E a mãe, inflexivel, que não, as compras hoje ficavam por ali, ainda faltava a gasolina para o automóvel, caríssima, vá lá saber-se porquê?

(Mas acabou vergando, quando o Antoninho lhe pediu duas dúzias de chamuças para levar para casa. Ela própria se lambuzou toda, sublime, «forte», fortíssima, já se vê para quem duas duzias assim compradas, quase às escondidas dos mais miúdos. Da propriamente dita "arraia miúda", conclui).

Eu ia apenas por ração para os meus cães e gato. Depois lembrei-me de umas bolachitas para os idosos da minha família. Hoje é um dia triste. Os hipermercados são a costumeira enchente... Mas quem seríamos nós, portugueses, se em vez de comprarmos para nós e para os nossos - familiares e animais - nos atafulhássemos em chamuças? Anda por aí, ao que dizem, um partido novo que se preocupa com essas questões. Infelizmente só tem um deputado, um finguelinhas ao pé da D. República. E esta, sempre na lamúria, não lhe passa um dia por cima. Azar nosso, quando a apanhámos por vizinha... O melhor ainda será inundá-la de chamuças, até à indigestão - ao crash... - fatal.

 

 

"De Cabo Verde para Famalicão"

João-Afonso Machado, 04.10.18

ARMAS DE PINDELA NA IGREJA DE S. FRANCISCO.jpg

Ocorreu há pouco a mais justa homenagem que Famalicão poderia fazer a José de Azevedo e Menezes, Senhor da Casa do Vinhal, onde, justamente, a cerimónia se realizou. E nela foi apresentado o livro da sua correspondência (o vol. I – 1878-1733) intitulado Camilo Homenageado, com a introdução, leitura e notas a cargo da Senhora Eng. Emília Nóvoa Faria. Uma obra a consultar com o maior interesse.

O presente escrito, fugindo ao habitual, pretende agora dar umas achegas que só podem valorizar a história famalicense. Isto a propósito do grande exilado de Ceide.

Numa sua carta de 9 de Setembro de 1887, inquiria ele José de Menezes sobre a ascendência do Bispo de Cabo Verde, D. Manuel Afonso da Guerra, cujo património o herdara a Casa de Pindela. E, em apontamento de rodapé, cita-se Fortunato de Almeida (História da Igreja em Portugal), o qual alvitrava o prelado, nomeado bispo em 1614, apenas sete anos após embarcara para a sua diocese. Por razões diversas, uma delas a sua pouca vontade em rumar tão distantes paragens.

É o ponto em que eu talvez possa esclarecer algo mais.

Escrevia Camilo – e José de Menezes não o contrariava – D. Manuel Afonso da Guerra era descendente de D. Pedro da Guerra, bastardo do infante D. João e neto de Inês de Castro. Eis o que não está averiguado e se constitui o primeiro argumento de interesse na questão.

Isto porque – segundo actuais e incontestáveis pesquisas genealógicas – Manuel Afonso da Guerra provinha de gente humilde de Basto, «honrados lavradores», vindo um deles para Guimarães, onde casou com uma mulher a quem chamavam «a Fiadeira». Foram os pais do futuro bispo. Se nas suas veias corria sangue real, o mesmo pingaria de fontes muito distantes, já para os seus esquecidas.

Aconteceu, porém, Manuel Afonso estudar, ser ordenado sacerdote e, por motivos igualmente não apurados, cair no goto de Filipe II de Portugal (1578-1622). A sua ascensão na Corte foi fulgurante. Não tardou era nobilitatado, ele e os seus. Ora, sem dúvida esta sucessão de factos incutem a ideia de que o já Bispo de Cabo Verde nunca pretextearia para adiar a partida para o arquipélago: estava tudo ainda muito tenro, e o rei podia até dar o dito por não dito…

Mas há ainda uma segunda e mais consistente e cativante razão para se aquilatar do desempenho de D. Manuel Afonso da Guerra entre os militares, colonos e mosquitos dessa África insular. Um documento subscrito pelo sargento-mor da ilha de Santiago, Garcia de Contreiras, e por onze capitães de infanteria e milícias, em 5 de Julho de 1623, atesta o seu valoroso desempenho aquando das aproximações dos muitos inimigos de Espanha por quem nessa época padecíamos.

Assim ficamos a saber que o prelado serviu «de governador, capitão geral e procurador da Fazenda de Sua Majestade»; e «sempre procedeu com muita prudência e satisfação geral, governando com muita brandura e paz e quietação, de modo que mais se tem por pai benigno de todos»… E nesses ataques traiçoeiros, por exemplo, «em um rebate que houve (…) de 16 naus de inimigos e outro de 50 naus, indo para este porto com propósito de o tomarem, (…) o dito Bispo se houve na preparação das coisas, fortificação da fortaleza e baluartes e em fazer uma grande trincheira de mais de duzentas braças neste ponto, como soldado de muito valor e esforço andando todo o dia e noite a cavalo rondando as estâncias a e acudindo a lugares necessitados». Por isso, «com o seu exemplo e prudência tinha os soldados tão arrumados que não se temia o grandíssimo perigo», no mesmo passo em que tinha «sempre a mesa franca para os capitães e mais soldados, nobres e moradores», obrigando-o, obviamente, «a grande despesa da sua fazenda». Num outra incursão, havendo já os corsários desembarcado na Boavista, foi ele à cabeça dos oficiais e soldados, pondo-os em fuga e capturando «duas peças de bronze de muito porte» e «o marfim que achou na mesma nau».

Enfim, também no domínio do sacerdócio se saiu com louvor – reza o dito documento – pregando, «apoiando os necessitados», de tal modo que «só com a sua existência neste lugar se sente menos as calamidades que padecem nesta ilha por falta de comer e do pagamento do ordinário»…

Regressando à Metrópole, o Bispo testaria em Lisboa a favor da sua sobrinha D. Catarina da Guerra, sua universal herdeira. E porque ela se consorciasse com João de Arosa Machado, de quem nasceu António Machado da Guerra, sucessor, casado com uma senhora de Pindela, eis esta Casa na titularidade de todos os vínculos e propriedades da família Guerra. Como o atestam este e outros muitos documentos do seu Arquivo Particular. Em duas palavras, a história começou em Guimarães e permanece em Famalicão. Lá, ficou apenas - e permanece - na Igreja de S. Francisco, em uma capela lateral que era do Bispo, o brasão de armas da Casa de Pindela.

 

(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 04.OUT.2018)

 

 

 

 

O S. Miguel em maillot de bain

João-Afonso Machado, 01.10.18

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Fugiu, este ano - fugiu o S. Miguel, disfarçado de turista a banhos. Ignora-se para que paragens, mas o povo não se ajuntou. Ficará para a próxima, com mais atenção e devoção aos concursos de gado vacum, à petiscada na praça maior, a uns bons canecos com os amigos. Se não foi assim, seria esta vista cansada, de tantos afazeres, de uma memória que o ainda estival calor esvanece, desorienta.

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Ontem, apenas, a esquiva passagem do desfile de atrelagens. Fiat lux... O S. Miguel, afinal, deixara o chapéu esquecido no móvel da entrada. Mas o domingo é o dia dos hipermercados. Está, cada vez, mais um dia caseiro. E landaus, charretes, vis-a-vis e similares requerem combinações prévias, a boleia garantida....

O S. Miguel não voltou atrás a buscar o chapéu. É provável que se constipe, Arderemos na sua febre ou iremos no vento dos seus espirros?

 

 

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