Diz (contrariada) que está mais "forte"
Há já algum tempo não nos cruzávamos. Hoje encontrei-a no hipermecado e, cerimoniosamente, cumprimentei-a. Que estava muito bem, obrigado, apenas um pouco «mais forte», abusava algo, abria a boca em excesso..
(Esta recusa feminina em darem-se por gordas, estes eufemismos... A D. Repúbica dir-se-ia poder estourar a qualquer momento, de tão «forte», de tanta chouriça que havia de rilhar todos os dias...)
Com ela, a prole, endiabradíssima. E magricela, não obstante. São uns três ou quatro e apenas o mais velho me pareceu sadio. A multiplicar-se em maus exemplos. Quando eu já quase gritava - Socorro! Fugiu um fauno da Mitologia, agarrem-no! - era somente o Antoninho que abrira um pacotinho de especiarias e esperneava do nariz e dos olhos em todas as direcções.
A D. República limitou-se a sorrir. Mas já não assim com os pequenotes que mexiam ávidos na montra das frutas e das hortaliças, agarrados a pés de couve galega, de couve de Bruxelas, com se lhes mordessem as saudades do chocolate. De comestíveis menos republicanos, menos caseiros, melhor cozinhados. E a mãe, inflexivel, que não, as compras hoje ficavam por ali, ainda faltava a gasolina para o automóvel, caríssima, vá lá saber-se porquê?
(Mas acabou vergando, quando o Antoninho lhe pediu duas dúzias de chamuças para levar para casa. Ela própria se lambuzou toda, sublime, «forte», fortíssima, já se vê para quem duas duzias assim compradas, quase às escondidas dos mais miúdos. Da propriamente dita "arraia miúda", conclui).
Eu ia apenas por ração para os meus cães e gato. Depois lembrei-me de umas bolachitas para os idosos da minha família. Hoje é um dia triste. Os hipermercados são a costumeira enchente... Mas quem seríamos nós, portugueses, se em vez de comprarmos para nós e para os nossos - familiares e animais - nos atafulhássemos em chamuças? Anda por aí, ao que dizem, um partido novo que se preocupa com essas questões. Infelizmente só tem um deputado, um finguelinhas ao pé da D. República. E esta, sempre na lamúria, não lhe passa um dia por cima. Azar nosso, quando a apanhámos por vizinha... O melhor ainda será inundá-la de chamuças, até à indigestão - ao crash... - fatal.