Conhecer o adeus
Essa palavra que nos está na boca toda e vem cá fora pelos mais ínfimos motivos - adeus! - afinal é um voto de bondade: que Deus te acompanhe! Naturalmente (ou nem por isso), guardada sobretudo para os momentos de despedida. Ou do fim, acrescentam os dicionários.
Ando matutando nela. Na quantidade de adeuses, com ou sem letra maiúscula, a despachar a gente ou resignados, lacrimejados.
Adeuses ditos por dizer, adeus que valem um "até já", adeuses a quem parte realmente para Deus... O termo tem peso e envergadura, traduz alívio, expressa tristeza, é todo ele de uma bipolaridade tremenda.
Escrevo-o a medo. Mas, neste momento, crendo-sinceramente-num-certo-adeus-que-deixou-saudade-e-eu-pressinto-derradeiro. Um daqueles adeuses de braço erguido, a mão acenando, acenando, e o comboio a sumir na curva, deslizando como as cobras entre as pedras.
(Vendo melhor, as cobras andam por aí, a gente se voltar ao sítio onde as topou faz-lhes uma surpresa e ainda as apanha - lembras-te? Já com os comboios, tantos são eles, os adeuses são muito definitivos, como uma multidão, uma praça repleta e simultaneamente ninguém. Sim, eu elegeria o comboio o logotipo do Adeus.)