"De volta ao liceu"
Quatro anos depois, o reencontro. Lembro fotografias felizes desse jantar, então seguido de gala dançarina, uma animação indiscritível, era realmente como se tivéssemos viajado no tempo, alcançando os anos do cabelo comprido, lambido, das bocas de sino e dos colarinhos borboleta.
Desta vez, não. Quero dizer, não foi um jantar, antes almoço, no Eugénio’s também. Na parte que me toca, os motivos para festejar escasseavam, ou melhor, toldavam-me outros mais pesarosos, recentes, a impor recato. Fui para estar com antigos colegas, amigos, dar-lhes um abraço, dois dedos de conversa, saber a que ritmo o mundo vai girando.
Era a tropa toda do nosso velho liceu. E alguns professores, a D. Olga, funcionária dessa época, agora com a vivacidade dos nossos filhos. Que sprint fantástico de regresso à juventude, o da D. Olga! E nós, carcaças sem proveito, sem, sequer, aquele seu pezinho tão calhado para a dança!
Na verdade, somos muito as mesmas caras do costume. Os que já se habituaram a estes rituais e gostam de pôr na balança os antigos companheiros, comparar pesagens, ou de lhes gabar a tosquia - que tudo o que o vento levou - senão mesmo a tão conseguida brancura das cabeleiras. Mas a Conceição Carneiro, uma das mais activas na organização, logrou este ano a presença de algumas caras novas. Durante o repasto, por exemplo, ficaram na minha mesa duas colegas que principiaram o seu liceu aquando da minha entrada na faculdade… Contas feitas, separar-nos-ia meia década de calendário, nada que assustasse... Mas impressiona, rememorando o longo tempo que os estudos na altura pareciam demorar-se, desde o fim definitivo dos calções até à autorização para fumar à frente dos pais. Cinco anos – que longa experiência de vida, indo quase ao uso regular da Gilette, às saídas nocturnas - nesses idos, claro, - ou aos namoros com todos os efes e erres.
Não posso deixar à margem – seria uma maldade – a esplêndida forma física dessas colegas mais novas, bem patenteada no salsifré. Pormenor curioso e raro – uma delas trazia já duas alianças, uma de ouro, a outra de prata. Não fora a minha assumida velhice, eu diria (depois de não resistir a qualquer pergunta indiscreta) – descoroçoante!
Dos velhos amigos não poderei acrescentar muito mais – estão velhos, permanecem amigos, alguns obraram já o milagre de se reformarem. A vida é, completamente, este galope sem freio.
Para o ano, não haverá mais. Mas em 2019 sim. Os que ainda por cá andarem – agora já temos estatuto para estes fatalismos, que ouvíamos aos nossos avós – não poderão deixar de comparecer ao cinquentenário do liceu. Nascido Secção do Liceu Nacional Sá de Miranda (Braga), depois independentizado Liceu Nacional de V. N. de Famalicão, e agora, sem originalidade nem patine, intitulado Escola Secundária Camilo Castelo Branco..
Ouviram, Vaca Preta, Purgas, Arado, Gasosa, Banheira, Rasteiro, Cabecinha de Cristal, Cavalo de Troia, Xaramela, Botas, Biscoito, Tatão, Carranca, Pato, Tenente Escacu e tantos outros mais?
(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 30.MAI.2018)