Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

"De volta ao liceu"

João-Afonso Machado, 30.05.18

VELHO LICEU.JPG

Quatro anos depois, o reencontro. Lembro fotografias felizes desse jantar, então seguido de gala dançarina, uma animação indiscritível, era realmente como se tivéssemos viajado no tempo, alcançando os anos do cabelo comprido, lambido, das bocas de sino e dos colarinhos borboleta.

Desta vez, não. Quero dizer, não foi um jantar, antes almoço, no Eugénio’s também. Na parte que me toca, os motivos para festejar escasseavam, ou melhor, toldavam-me outros mais pesarosos, recentes, a impor recato. Fui para estar com antigos colegas, amigos, dar-lhes um abraço, dois dedos de conversa, saber a que ritmo o mundo vai girando.

Era a tropa toda do nosso velho liceu. E alguns professores, a D. Olga, funcionária dessa época, agora com a vivacidade dos nossos filhos. Que sprint fantástico de regresso à juventude, o da D. Olga! E nós, carcaças sem proveito, sem, sequer, aquele seu pezinho tão calhado para a dança!

Na verdade, somos muito as mesmas caras do costume. Os que já se habituaram a estes rituais e gostam de pôr na balança os antigos companheiros, comparar pesagens, ou de lhes gabar a tosquia - que tudo o que o vento levou - senão mesmo a tão conseguida brancura das cabeleiras. Mas a Conceição Carneiro, uma das mais activas na organização, logrou este ano a presença de algumas caras novas. Durante o repasto, por exemplo, ficaram na minha mesa duas colegas que principiaram o seu liceu aquando da minha entrada na faculdade… Contas feitas, separar-nos-ia meia década de calendário, nada que assustasse... Mas impressiona, rememorando o longo tempo que os estudos na altura pareciam demorar-se, desde o fim definitivo dos calções até à autorização para fumar à frente dos pais. Cinco anos – que longa experiência de vida, indo quase ao uso regular da Gilette, às saídas nocturnas  - nesses idos, claro, -  ou aos namoros com todos os efes e erres.

Não posso deixar à margem – seria uma maldade – a esplêndida forma física dessas colegas mais novas, bem patenteada no salsifré. Pormenor curioso e raro – uma delas trazia já duas alianças, uma de ouro, a outra de prata. Não fora a minha assumida velhice, eu diria (depois de não resistir a qualquer pergunta indiscreta) – descoroçoante!

Dos velhos amigos não poderei acrescentar muito mais – estão velhos, permanecem amigos, alguns obraram já o milagre de se reformarem. A vida é, completamente, este galope sem freio.

Para o ano, não haverá mais. Mas em 2019 sim. Os que ainda por cá andarem – agora já temos estatuto para estes fatalismos, que ouvíamos aos nossos avós – não poderão deixar de comparecer ao cinquentenário do liceu. Nascido Secção do Liceu Nacional Sá de Miranda (Braga), depois independentizado Liceu Nacional de V. N. de Famalicão, e agora, sem originalidade nem patine, intitulado Escola Secundária Camilo Castelo Branco..

Ouviram, Vaca Preta, Purgas, Arado, Gasosa, Banheira, Rasteiro, Cabecinha de Cristal, Cavalo de Troia, Xaramela, Botas, Biscoito, Tatão, Carranca, Pato, Tenente Escacu e tantos outros mais?

 

(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 30.MAI.2018)

 

 

 

Vigo

João-Afonso Machado, 25.05.18

Foi sempre a paraíso dos caramelos solano, das pistolas de fulminantes, dos baralhos de cartas miniaturas para fazer paciências. Vigo, no regresso, era também aqueles demorados minutos de busca policial na fronteira, o carro virado do avesso em busca de contrabando. Mas lá vinha, de quando em vez, uma garrafita de whisky, o pior do mundo - de sua marca DYC.

RUA DO PRINCÍPE.JPG

Agora tudo mudou. Já não há Calle del Principe mas, à galega (à minhota), a Rua do Princípe. Pedonal. Tranquila, cheia de boas lojas e gente que passeia. Com algumas peças raras e venerandas.

JOYERIA.JPG

Mais umas voltas pelas redondezas em que não cansam as características janelas espanholas, ou melhor, as varandas ajaneladas, possivelmente os lugares ideais para pensar na vida e escrever a olhar para ela.

VARANDAS.JPG

E estranhos arrebiques monumentais, no topo de edifícios calados, ou talvez incompreensíveis por tanta arte numa cidade tão pequena no mapa.

ESCULTURAS.JPG

Descendo, estamos na vastidão da Ria. Mas não na vastidão bastante para ocultar, na ilha de Toralla, uma imbecilidade muito a par das que entre nós se praticam.

ILHA TORALLA.JPG

 Não é que o mal dos outros nos sirva de conforto, mas... sempre podemos aprender algo com ele, como quem se vê ao espelho, e deitar meio País abaixo.

 

 

 

Vida de gato

João-Afonso Machado, 23.05.18

IMAGENS 090.jpg

Está quase na sua hora. Um pouco mais e sobrevirá o fim dos reflexos, a ausência de luz e reinarão os ruídos só por eles, os gatos, perceptíveis. À varanda, a gente acompanha-lhes os preparativos, o seu silêncio conversado, e como se dividem entre o regabofe das lixeiras e a caça atenta aos ratos da horta. Discutem, dividem funções e depois vão.

Aproveitaram o sol para dormir à sombra. Será sobre o mutismo das almofadas das suas patas que não deixarão quieta a noite. Tão perto e tão longe do nosso descanso nocturno, e sempre indiferentes a assaltos e a tudo quanto a escuridão abriga de nocivo.

Valem-nos os cães. Sentem-no como obrigação e, de resto, a essas horas só as corujas voam lá fora, a concorrer com os gatos. Aliás, estarão já jantados, saciados, entusiasmados com os filmes na TV em que os seus congéneres do mundo inteiro ladram dentro dela.

- Ora muito bem! - sussurra o gato preto, de todos o mais invisivel, enquanto vai já subindo a rua a embrenhar-se na noite que ele quer sua, só sua, nem mesmo dos seus. Que vá, em vez de ficar e abrir as gavetas das mesas de cabeceira e espalhar no chão o que por ali encontra.

 

 

 

A nossa claque no castelo de Windsor

João-Afonso Machado, 19.05.18

POLÍCIAS.JPG

A  nossa comitiva chegou a Londres um pouco macerada do voo na Ryanair, mas com um entusiasmo furioso. Eram umas largas dezenas.

- Please,

começou uma senhora ilustrada, sonhando a arquibancada, e o policeman, olhando em redor, a voz naquele microfone tamanino,

- Portugueses...

apontando ao colega a chusma, como quem endossa o assunto. Porque era muita gente de Almada e do Seixal. Altos, de cabeça rapada e a pele bem tisnada do sol (e não só); ostentando bandeiras americanas, a discutir o basquetebol. E os mais, aloirados, decerto da banda de cá do Tejo, a espanejarem a velha flag britânica.

- This way, please...

E todos seguiram ordeiramente o cordão policial criado em sua volta. quarteirão após quarteirão.

- Olhe que nós queremos uma vista de primeiro plano para o castelo de Windsor!

- Sorry?!

E ele sorriu. O agente também, tudo sem incidentes. O destino previsto era uma junção com madeirenses radicados na Grã-Bretanha que se associavam ao delírio do evento. Ali ficaram todos, descendentes de Viriato.

Decorreu o tempo bastante para trazer a nossa proverbial impaciência. Percebeu-se, finalmente, o novo casal real vinha aí e passou ante o gáudio dos seus súbditos, a loucura total.

Escutando o clamor levantado, os nossos não quiseram ficar por menos:

- Olé. olé, olé, olá!!!

- Alé, alé, alé!!!

E houve até um barreirense a intentar um beijo na bela Meghan, mas um polícia encorpado deu-lhe a entender - educadamente - o peso do bastão. De resto, lera algo sobre o Buiça e o Costa... O nosso compatriota  logo voltou ao seu lugar.

O cortejo findara. A expressão ruiva do Principe Harris permaneceu. Tal como a da nova duquesa de Sussex.

- Um sucesso, é verdade, um sucessso,

confirmou a velhinha da Baixa da Banheira.

Depois, foi uma noite de muita cerveja e uma manhã mal acordada. Mas... tratasse-se de um neto de Marcelo, quem iria lá? Assistir a quê? Os lusos caíam em si, inquiriam-se, nada percebiam já.

(E Portugal não gosta de vergonhas - o grupo rejeitou a inscrição de um senhor Bruno, que teve o azar de proclamar - no aperitivo da Royal Academy, raparia o gin todo e os After Eight também, num badamerda para o planeta inteiro).

 

 

"Revivalismo"

João-Afonso Machado, 17.05.18

BARCELOS.JPG

Com muita ansiedade, aguardávamos o percurso final da feira, depois da maçada das hortaliças e das flores e da inacreditabilidade dos móveis e das roupas. Com pena, miúdos ainda, despediamos-nos das galinheiras, no fim de infrutíferas tentativas para comprar um patinho ou mais um coelho. Mas agora estávamos no limiar das bugigangas e dos barros de Barcelos. Tudo coisas de encher o olho, expostas em montras improvisadas sob um coberto de lona, cheias de cor e prateados e dourados.

Onde quer que as mulheres apresentassem as suas cerâmicas, reinava lá o galo, em tamanhos diversos, conquanto não na variedade com que se intrometem com ele agora, inclusive nos seus momentos mais íntimos com as galinhas barcelenses. Não, nessa época o galo ocultava as suas galações e tinha apenas uma vestimenta, aquela mesma do galo de Lisboa e do galo de Faro ou de qualquer outra loja de souvenirs, transformado em saca-rolhas made in China. E, acolitando-o, a banda de música toda, fardada em uníssono, só homens de bigodes de pontas retorcidas e olhar arregalado, tocando cada um o seu instrumento. Mais os mealheiros, uma escolha inteira entre o gado suíno e o ovino, o primeiro entusiasmo de umas moedas pela ranhura abaixo, mais adiante a impaciência de o contar e, finalmente, um pretexto, disfarçado de distracção, o animal no chão, em cacos, e o capital depositado reinvestido em chocolates.

Menos toscas, mais lisas, cobertas de uma camada qualquer de não sei que verniz, algumas espécies selvagens ou, pelo menos, quase assustadoras: um dálmata em tamanho natural, por exemplo; ou os elefantes de tromba erguida, bramindo desde os fornos de Barcelos, como dois que ainda mantenho.

O melhor estava para vir: as tendinhas de canivetes, bonés, cintos, porta-moedas ou carteiras, isqueiros, esferográficas, espelhinhos com jogos no verso, chaveiros, harmónicas, eu sei lá que mais. Aí comprei o meu primeiro cinto à cáboi, em napa pura, um fivelão com duas pistolas cruzadas. A lembrar vagamente os dos primos em Lisboa, do antigo correame dos bombeiros, geralmente oriundos da Feira da Ladra.

Era impossível não passar ali sem descobrir algo que necessariamente nos fazia falta. Tutelados por adultos, nunca poderíamos aspirar àquelas canetas com uma bolha de ar em que uma menina ora surgia em maiô ora já despidinha, no banho. Mas as navalhinhas com o toureiro em pose, um isqueiro dito Ronson de pedreiro (não para acender cigarros, somente para alguma emergência – para ter…), desses isqueiros com um depósito cheio de algodão onde se escapulia a gasolina e um pavio imenso, uma labareda monumental debaixo de uma fumarada negra, quase uma fábrica a arder…

Por regra saíamos dessa zona de tentação e pecado um bocado aos safanões para a frente. Passávamos ao lado das vendedeiras de bolos e pastéis sem transes, porque já nessa altura concluíramos uma vareja não era propriamente uma uva passa. Os derradeiros casinhotos, junto às grades do mercado, em madeira, eram os dos ourives. Desses intrépidos feirantes que vendiam o seu metal precioso de terra em terra. Então na maré em que os emigrantes vinham de vacances aquilo era mel à porta do formigueiro.

Cordões, pulseiras, medalhinhas com santinhos, uma hagiografia inteira deles, cruzes e até relógios. Plaquinhas com os signos do horóscopo é que ainda não… Mas nada disto seria já possível nos nossos dias, sem pistolas, forças especiais anti-motim, sangue e prenúncios de guerra civil em cada feira.

De tudo ficam memórias. E um ou outro objecto nas antiqualhas das Festas de Maio. Um cinzeiro com uma bailarina no bordo, um tamborzito, um livro do Vilhena, vá lá.

 

(Da rúbrica De Torna Viagem in Cidade Hoje de 17.MAI.2018)

 

 

 

Talvez seja melhor...

João-Afonso Machado, 15.05.18

IMG_2536.JPG

Soubesse eu, escreveria um madrigal. Talvez mesmo o dedicasse, todo em cores, subindo o monte num vagar apaixonado de quem vê pétalas e vê o céu, e faz raminhos e juras. Decerto a mente carregada de desejo, as pedras a poli-lo como um sentimento, e qualquer pardalito leve como as penas da bondade e do amor. E assim prosseguiria, nesta caminhada primaveril, de promessa em promessa, entre sonhos lilazes e amarelos, acrescentaria eu, os tons garridos dessa tua alma que anseio, etc, etc.

Mas não, não sei escrever madrigais. Gosto dos dias fugazes de Maio que antecedem os excessos estivais e a poeira em meu redor. Quero dizer: gosto da vegetação brava e multicolor, não sei porque hei sempre de imaginar a passarada a levantar de entre ela, não há penedo que não me traga à ideia uma cobra enroscada ao sol. Gosto de saber estamos na altura dos ninhos, o mundo talvez ainda dure este ano. Gosto dos cães a correr à vontade, sobretudo. Mas é tanto o bicho humano, que grande parte desses gostos se tornam inalcançáveis.

A não ser que aprenda a escrever madrigais. Mesmo sem vislubrar a cobra ao sol, uma sardanisca, sequer, mas sentado num calhau, esperando passe alguém digno de uma dedicatória.

 

 

Apanhados (XIV)

João-Afonso Machado, 14.05.18

127 (2).JPG

Nesses tempos universitários, este era um luxo supremo. Dava tanto ou mais efeito do que o mais cotado par de olhos azuis. E dava muito jeito também. São imensas as utilidades de um carro, quando se é estudante - por exemplo, a possibilidade de participarmos num rallye paper...

O Fiat 127 andava bem, guiava-se bem, estacionava-se bem. Era um citadino de olhos postos no futuro. Apenas nos circuitos claudicava: nas provas dos concorrentes remediadinhos, cheios de papeis, patrocínios e outros empurrões, surgiam invariavelmente dois Fiat 127 com lugares cativos - o primeiro e o segundo a contar do fim da tabela.

 

 

Azares de um girino no aqueduto

João-Afonso Machado, 11.05.18

AQUED..JPG

A rã era estúpida e, sobretudo, cegueta. Por junto, ninguém percebeu como, e onde, alcançou o aqueduto e nele depositou os seus ovos. Depois chegaram os melros e os corvos - houve quem jurasse, uma garça também, - e, contas feitas, daquela postura ficou um girino apenas. Já o calor esbatia a correnteza das águas, ainda assim incontroladas pela falta de barbatanas do bichinho.

A vida não lhe foi fácil. O aqueduto cumpria a sua missão de alimentar a casa, torneira aberta era torneira botante, a água corria, escorria, vinda de longe (nem havia quem se preocupasse de onde), fresca, sadia, quase uma tradição inconstestável.

As ervitas do aqueduto, nascendo todos os dias, todas as semanas eram cortadas. Daí a dificuldade em perceber a estupidez cegueta da rã. Porque, mais remanso, menos remanso, o girino sobrevivente alcançou a canalização da água.

Desceu-a num vórtice alucinante, entrou numa pia granítica, e não esperou muito para voltar a idêntica sensação. Alguém - a menina - abrira a torneira da cozinha com um copo estendido...

Foi o seu último mergulho!...

Um grito histérico, um protesto, a ameaça de não voltar. O girino pereceu ralo abaixo. E o aqueduto acumulou musgo e chamaram-lhe monumento. Exigência da família inteira: doravante, só água da Companhia!

Assim, incompreeensivelmente, o copo de água, tumba do girino, não foi vertido no tanque, o mundo deu um passo para a modernidade e outro para a temporalidade porque as pedras alcançaram a proeza da podridão.

Já bebi um girino e estou cá... Gosto de aquedutos.

Estúpida e cegueta rã!

 

 

Maio de 68

João-Afonso Machado, 08.05.18

PARIS - 1998.jpg

Entre amigos, hoje, o tema maior da conversa foi o celebérrimo Maio de 68. É o seu cinquentenário. Na parte que me toca, quando em fazia os deveres escolares, apenas, e coleccionava cromos de jogadores de futebol. O Maio de 68 entrou na minha compreensão muitos anos depois.

Mais precisamente - anoto sempre nos meus livros a data da sua aquisição - em 1986, quando li - e reli - A Revolução Inexistente, de Raymond Aron. Uma obra escrita sob a forma de entrevista de Alain Duhamel ao próprio Autor, onde, logo na página inicial, pontifica o dizer de Proudhon (1848) - «Fez-se uma revolução sem uma ideia. A nação francesa é uma nação de comediantes».

Muito mais podia acrescentar-se. A Revolução hoje não tem um destino senão o da destruição pela destruição. Sobretudo a do Reformismo. «Toda aquela gente imitava os grandes antepassados e reencontrava os modelos revolucionários inscritos no inconsciente colectivo. Mais psicodrama do que drama, à falta de partido revolucionário», frisava R. Aron.

Pois. O resto foi o aproveitamento dos protestos estudantis pelo parco marxismo-leninismo e maoísmo organizado. É sempre assim. A confortar as minhas saudades do tempo em que me escapulia à polícia. Ao menos, os motivos eram nobres - os lares das freirinhas estavam coalhados de meninas  e nós, altas horas da noite, queríamos confraternizar com elas.

 

 

Talvez com a rede das borboletas

João-Afonso Machado, 06.05.18

CAFÉ.JPG

Não era mais do que uma imagem, o pretendido. Quem diz imagem, diz memória, saudade, um movimento da alma. Algo a enchê-la como antigamente no Avenida, sentado à mesa sobre o passeio, a espreitar o mundo pela grande vidraça.

Era, há muitos anos, o café onde se sonhava a vida. Não o rodeavam prédios, nem o ensurdecia o ruído dos motores. Tal como os carros passavam agora comedidamente, e a luz do sol ia subindo ao longo do torreão sineiro da Matriz velha. Num ápice de imaginação, surgiu uma pequena lá perto, no adro, mais a sua bicicleta, foi um fogacho com quase cinco décadas, preocupada, apressada - Faz-se noite, são horas, os meus pais estão à espera...

O sol despedira-se do torreão. A pequena da bicicleta levou-a o Tempo. O mais foi o futebol na televisão, algo de incompatível com esse antigo sonhar. Facto inédito, o Avenida tornou-se barulhento.

Será por se tratar de um dia cinzento. Outros virão, talvez com uma rede de apanhar borboletas e uma pontinha de jeito. De argúcia, para, em silêncio, enredar o sonho, a imagem, uma lágrima qualquer de saudade.

 

 

Pág. 1/2