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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Preparativos - V - E agora?

João-Afonso Machado, 21.03.18

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Descendo, descendo o mapa, descendo sempre, alcancei o lugar prometido. Não o descreverei, é impossivel tal o que me vai na alma. Mas há um morro, o casario escorrendo por ele abaixo, um rio tresandando a peixe e uma planície alagadiça. Um mundo de aves pernaltas - cegonhas, garças, tarambolas, alfaiates - voando no ciclone de entusiasmo em que esta caneta rodopia de olhos no horizonte. (Os cães, de patas no murete, igualmente maravilhados. Fluem planos - umas botas de borracha novas, o suor de um caminheiro, a feijoada no termo da caminhada. Dionisio e Deus-Pai e o pedaço de descanso que Ele nos reserva para os anos derradeiros)

É um oásis mourisco em mundo luso. Mas estão lá outras famílias cristãs e o culto mariano é admitido e respeitado. Ali teria de ser assim, porque «símbolos aquáticos, símbolos cristãos, a história do Evangelho continua ao ritmo das ondas. E teve na Mãe de Jesus - água recriada donde pelo espírito brotou o mundo novo - outra simbolização maior, tantas vezes marinha» (D. Manuel Clemente, in Portugal e os Portugueses).

De modo que dei de caras com o Eden. É na nossa terra, afinal. E comecei - não esquecendo a samarra, nesta época do ano - a procurar as folhas de figueira a pendurar nos adequados sítios biblicos.

Enquanto isso, o espírito entrou a atazanar-me. Então vai ser aqui a transformação das economias de uma vida de trabalho na casinha sonhada? Mesmo que de janelas abertas para as aves pernaltas?

E duvidei, perdi subitamente a fé. Resolvi retroceder a Lisboa e explorar a Brandoa, o Bairro da Serafina. Pode por lá haver, sem especial disturbio financeiro, algum barraco com pátio, um coberto de chapa ondulada. Em tijolo vivo para eu me dedicar à bricolage. E com uma antena parabólica, evidentemente.