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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O outro Porto, só deles

João-Afonso Machado, 23.01.18

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Se lhe chamasse o "Porto profundo" não estaria a ser exacto; como se o rotulasse de "Porto diferente" também não. Mas é um Porto macambúzio, talvez seja timidez, não necessariamente apego ao trabalho. É um Porto enrodilhado em cruzamentos de ruas, mas transitável, ainda assim. E com tudo perto, dentro das suas entranhas, onde se descem e sobem ruas na maior descontracção, as mangas arregaçadas e o olhar numa montra qualquer. Porque ali também há comércio, discreto, como é timbre nesse Porto, e inútil para os forasteiros. O bairro auto-abastece-se. Mas que bairro? Pois, aí é que está o busílis.

É um Porto esparso e volátil. Pareceu-me encontrá-lo o outro dia entre o Bonjardim e Santa Catarina, lá para cima, quase no Marquês. Estava com um aspecto óptimo, bem construído, sem sinais de desleixo e abandono. Sempre estreito de gentes, este Porto detesta as multidões, os portuenses e os seus recentes aliados, os turistas. Tranquiliza-o vê-los ao longe, nas rotas de Campanhã. E não lhe passa um ano por cima, Cronos parece esquecê-lo de há uns 50 a esta parte. Evidentemente, nem sempre os resultados são bons - quantos dentes conserva ainda Latino Coelho na sua boca, ele que é visto todos os dias no tal Porto? E o Bonfim, essa rua tenebrosamente escura?

Sas as inevitáveis mazelas. Mais para um outro lado qualquer, esse Porto, o outro Porto, acomoda-se em prédios de silêncio e defendidos contra o frio e o calor. Vive protegido pelas suas muralhas, cobrilineas como não há outras. Sorrindo, decerto, para a confusão. Cercado, fleumaticamente cercado, de mundo e agitação. Não há memória de alguém que conheça os portuenses desse Porto. Nem sequer se sabe se eles já descobriram o mar e a praia.