Quilómetros de almocreve
As coisas tornam-se por vezes fastidiosas. Moles, muito em forma de caracol. Talvez até de cornucópia, se o andar dos quilómetros entra em artes de saber e investigação, quilómetros chifrudos, marrando obsecados sempre o mesmo tema.
Quando os quilómetros se tornam curtos, circulares. A entontecer os dias. E invariavelmente em marcha atrás. Monotemáticos em fotografias impostas, quase sem vagar para rabiscar um bom desenho. Ainda por cima, quilómetros caseiros que jogam às escondidas nos quintais dos vizinhos. E de olho no relógio, quilómetros contra-relógio, com prazos limite e horas severas de almoço, curiosíssimos, torrenciando perguntas.
Isso tudo para quê? Eles um dia dirão. Quando, enfim, deixarem de ser vistos rabichos de quilómetros a sair os arquivos públicos, de óculos e apontamentos, quilómetros pesquisadores fora do pó das estradas; e delirantes por a estas nuvens regressarem.
Ou mesmo se transformarem em quilómetros aéreos, lá nas alturas azuis-celeste. Ou cavalgarem uma dezena de cavalos de potência, tudo em busca de novas visões em outras larguezas. Quilómetros de olhos esbugalhados e a alma a palpitar. Não diria quilómetros sem freio, mas ainda menos quilómetros trazidos à arreata ou em trote travado, a buscar uma encomenda mais, uma pista, com utilidade para a sua mercancia.