Paroles
A parte maior do meu mundo é construída de palavras. De palavras escritas, bem entendido, porque as ditas são demasiadamente estranhas para caberem nele. Terá havido uma única alma que eu conhecesse assim entender. Era silenciosa por natureza - os seus sentimentos expressava-os por actos, jamais por discursos. Isso e os cães são uma garantia presencial. Uma eternidade do coração.
Nem sei porque assim escrevo, hoje em lapiseira carregada de saudades. Não sei - não porque não saiba o que quero dizer, somente por saber nada será alterado. O outro mundo gira nesta rotação e um simples tom de voz modifica as intenções, as afirmações, os gestos até. Como se a um perdigueiro não bastasse o esticar do queixo para ele saber o rumo a seguir.
Algum ressentimento? - Zero! Apenas a curiosidade de averiguar onde se pode chegar, e a experiência adquirida de, verbalmente, se colher muito mais ouvindo do que semeando palavras. Porque se - voluntariamente ou não - há excessos delas, há também o consequente mal estar. E a aplicável regra de ouro: falei de mais, entusiasmei-me, tout court; falaste de mais, mentiste.
Assim provido destes conhecimentos, assim desnecessitado de remediar... Tareja, falam-te os meus olhos, queda-te aí.