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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Dura vita, sed vita

João-Afonso Machado, 31.01.18

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Passou a unha no cabelo e abriu um rego na brilhantina. Para viajar o dia calhara muito mal. O suor pingava de dentro do seu chapéu de feltro. Ao lado, o colega puxava pelo sono, abananado no banco da gare, o colete desapertado, a gravata com o nó quase no umbigo. Que diacho, as meias brancas felpudas pareciam não lhe caber nos sapatos, havia de ter os pés em lindo estado!

Ainda mudariam de comboio no Porto: depois sempre o rápido para Lisboa teria ventilação. Chegariam de manhã cedinho para dois ou três dias de paródia, correriam a Capital de ponta a ponta. O pior fora o pretexto que ele e o colega necessitaram apresentar às respectivas famílias. Como lhes dizer, se iam para a rambóia ao jeito dos moços da recruta?

Veio por eles o escândalo dos juízes detidos, divorciados mas cumplices, criaturas do demo. E aquela malta toda do futebol, o que nos vale é a polícia! - enquanto auguravam o Tarrafal para os delinquentes. Sim, iriam à manifestação de apoio às autoridades e ao Presidente, era uma obrigação, iria o País inteiro.

A Emissora Nacional cantava triste, romanticamente, «Ma-a viee/j'en ai vu des amants/ma-a-a vieeee/ l'amour ça fout le camp/je saaais/on dit que ça revient/ma-a-a vieeee/mais c'est long le chemin» e ambos se lembraram de não mencionar o nome da juiza Fátima Galante, para dissipar de vez qualquer dúvida.

 

 

 

Preparativos - II - O ensaio

João-Afonso Machado, 29.01.18

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Uma longa diagonal de norte a sul e, subitamente, cercada de negro, a agitação de uma grande cidade do Interior. O jantar foi nessa ilha, a viagem decorrera em paz, àquela hora ainda houve quem comesse e bebesse com vigor.

A cidade é um album de fotografias em carne viva. Doi muito. Sobre cada cliché há uma voz ou um olhar antigo, renitente, ali mantido com ordens para ficar. Fala-se para fora bombeando água nos ardores cá dentro.

A grande expedição, um dia, fará a travessia de cidades sem retrato nem ecos. Rumo à vilória. Disposta a montarias, largadas, pescarias, o presente do indicativo do verbo permanecer. A primeira pessoa do singular emerge do tinteiro na ponta da pena e sem desdenhar a sua congénere no plural. Mas capturada entre os indígenas.

Os ensaios alertam para estas coisas, um pouco ao lado de uma bela manhã de javalis. Aliás, quase todos eles imigrados por força da calamidade dos fogos. À pressa. E a pressa é inimiga da perfeição.

 

 

Apanhados (X)

João-Afonso Machado, 26.01.18

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Brincando, brincando, estão aqui 30 anos de estrada. Há sempre aquele labéu, é um BMW - por acaso, este de uma série (320) menos exuberante - mais uma dose de desdém, mas as máquinas alemãs são o que são. E permanecem sendo.

A esta hora, ou ele ou um parecido, ruma o Interior sul, as terras distantes dos javalis e dos veados. Quase a voar rente à estrada.

 

"Quase maresia em Cavalões"

João-Afonso Machado, 25.01.18

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Quando o meu amigo e colega João Carvalho recentemente me contou, em dias especiais de ventos, chegava a Cavalões algo no ar muito parecido com a maresia, eu senti bem a espetada da saudade ou da nostalgia; qualquer coisa a fazer-me tirar espaço aos quilómetros, tempo ao Tempo, aproximando mais as pessoas.

Não, com certeza, de coração posto no Verão, na praia, nas férias. Muito pelo contrário, espreitando os subtis movimentos da realidade estática, a discreta chegada a Cavalões dessa silenciosa aragem. O mar não é longe, àquela freguesia segue-se Gondifelos e depois o concelho da Póvoa, e uma recta é a distância mais curta entre dois pontos. O mar, insisto, não o mar dos banhistas veraneantes, mas a anarquia meteorológica onde reina e até envia emissários a Cavalões.

Assim, não obstante a nova auto-estrada, rumo no estio a Vila do Conde com o entusiasmo de um condenado a subir ao patíbulo. Que me perdoem os meus amigos (os poucos que ainda por lá permanecem…), a quem vou de visita. Mas, alguns anos atrás, sendo o julgamento nos tribunais da Póvoa ou de Vila do Conde, era certa a minha paragem no paredão da praia da frente. E o choque com aquela sensação de amplitude, do areal entregue a si mesmo, dos troncos dados à costa, de não sei quantas coisas que um velhote aqui, uma gaivota ali, esgravatavam e colectavam. E então sim, o mar desimpedido do falatório das gentes, bradava, e bradava bem alto. Eu ouvia, observava, recordava pessoas, o calor, todas as cores que podem colorir um lugar. Depois passava pela nossa rua, talvez por solidariedade com tantas casas fechadas, esperando os donos no mês fatal. Mas o quotidiano vilacondense, neste lado balnear, é assim mesmo – dado à hibernação. Enfim, descia a recta até à Senhora da Guia, regalava-me com as zangas das ondas e o farol, emparceirava com o rio umas centenas de metros e seguia à minha vida.

Porquê? Não sei bem. Creio que me interessa o realismo das terras, conhecê-las como elas são realmente, desde que se levantam, manhã cedo, até se deitarem ouvindo já a tempestade uivar. Interessam-me também as ofertas que trocam – para o bem ou para o mal - entre si: se Vila do Conde aproveita os ventos e expele maresia até Cavalões, Famalicão (e Guimarães e Santo Tirso e a Trofa…) emporcalham-lhe o Ave. E é tal a sujidade que nos faz abrir os braços às gaivotas ou aos corvos-marinhos que por cá se passeiam, e à diáfana maresia de Cavalões. Maresia, de resto, decerto já inexistente, soprada para longe pelo ruído dos automóveis, pelos fumos fabris. (Ficaram as gaivotas e os corvos…) São os tempos a tornarem-se mais distantes, as distâncias mais demoradas, quase esquecidas. É o ritmo do nosso dia-a-dia, em suma. De freio nos dentes, infinitamente mais veloz do que aquelas carroças cheias de sargaço, a abarrotarem-nos a memória de cheiros idos, longínquos, já mesmo esquecidos de Cavalões.

Uma vez escrevi uma coisa qualquer que acabava assim: «E eu nesta margem/chorando/(maldita maresia)/chamo aos sonhos viagem/e aos acenos/travessia». Deve ser isso.

 

(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 25.JAN.2018)

 

 

O outro Porto, só deles

João-Afonso Machado, 23.01.18

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Se lhe chamasse o "Porto profundo" não estaria a ser exacto; como se o rotulasse de "Porto diferente" também não. Mas é um Porto macambúzio, talvez seja timidez, não necessariamente apego ao trabalho. É um Porto enrodilhado em cruzamentos de ruas, mas transitável, ainda assim. E com tudo perto, dentro das suas entranhas, onde se descem e sobem ruas na maior descontracção, as mangas arregaçadas e o olhar numa montra qualquer. Porque ali também há comércio, discreto, como é timbre nesse Porto, e inútil para os forasteiros. O bairro auto-abastece-se. Mas que bairro? Pois, aí é que está o busílis.

É um Porto esparso e volátil. Pareceu-me encontrá-lo o outro dia entre o Bonjardim e Santa Catarina, lá para cima, quase no Marquês. Estava com um aspecto óptimo, bem construído, sem sinais de desleixo e abandono. Sempre estreito de gentes, este Porto detesta as multidões, os portuenses e os seus recentes aliados, os turistas. Tranquiliza-o vê-los ao longe, nas rotas de Campanhã. E não lhe passa um ano por cima, Cronos parece esquecê-lo de há uns 50 a esta parte. Evidentemente, nem sempre os resultados são bons - quantos dentes conserva ainda Latino Coelho na sua boca, ele que é visto todos os dias no tal Porto? E o Bonfim, essa rua tenebrosamente escura?

Sas as inevitáveis mazelas. Mais para um outro lado qualquer, esse Porto, o outro Porto, acomoda-se em prédios de silêncio e defendidos contra o frio e o calor. Vive protegido pelas suas muralhas, cobrilineas como não há outras. Sorrindo, decerto, para a confusão. Cercado, fleumaticamente cercado, de mundo e agitação. Não há memória de alguém que conheça os portuenses desse Porto. Nem sequer se sabe se eles já descobriram o mar e a praia.

 

 

A falar sozinha

João-Afonso Machado, 19.01.18

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Ainda há pouco um estranho me espreitava da ponte, os olhos pregados na vassoura sacudida para o rio. Ora! Esta gente parece desconhecer a força das águas e a merda toda que vem da cidade e se apega aos fundos e às ramagens. Vivo aqui, aqui nasci, era o meu falecido Pai moleiro e o mais famoso pescador de trutas. Quando as havia, que elas hoje são lendas... Pescava-as o ano inteiro, tanto fazia fosse com a minhoca, indo a corrente mais puxada, fosse com o grilo, no Verão. É verdade, um dia acendeu uma bomba, lá para Gondifelos, trouxe a saca cheia para quase duas semanas, no vinagre e com sal é e elas ficam boas, o frigorífico nem nas ideias do meu Pai andava ainda. A Guarda veio rio acima, parou por cá, eles sabiam fora o falecido, mas fizeram de conta. O susto bastara. Quando a água virou lodo, cinzento de tanta porcaria, o Pai foi-se de um mal que o levou num instante. Tinha acabado o tempo que lhe compensava os dias. E eu fiquei, a trabalhar à jorna, até esta reforma de miséria e o soalho a gingar. 

Nada espero mais. Tratem os meus sobrinhos do resto, cuidem da casa, a bem dizer nada sei das artes do meu falecido Pai para que as águas não nos chegassem aos quartos, em marés de tempestade e cheias. Oh Mãe Santa, daquela vez que o pipo que ele comprou lá para riba boiava na loja e os sacos de sarapilheira andavam no fundo, ensopados! Aquilo foi cuspir-lhe na sopa, jurou abandonar as moendas. Essas tais, agora paradas, e afora algum eirogo, também o peixe veio `vindo à tona de papo para o ar... Hoje...

Fosse eu mais nova uns trinta anos e não diria - leve-me o Senhor para terra limpa, onde não me pese na alma o mau cheiro do rio. Quem me há de ficar com este inferno deste jeito?

 

 

Na barra com o Colega Camilo

João-Afonso Machado, 16.01.18

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E se Camilo fosse também advogado, e um dia pleiteassemos a causa dos brasileiros de torna-viagem, ele acusando-os, eu defendendo-os? É claro, seria uma missão sempre difícil, Camilo pertenceria a uma dessas grandes sociedades, a maior, sem dúvida, com sócios como Eça, Fialho de Almeida ou, mais recentemente, Ferreira de Castro, Torga... Nomes enormes frente a um joão-semana, um afonso-machado que não sabe o latim, risca mal o francês e não lida bem com a ironia e as demais figuras de estilo.

Poderá até dizer-se, Camilo, causídico de renome, demandara já o Tempo e ganhara a acção. Perpetuou-se. Somente, impediu-o a cegueira de escrever mais. E as suas testemunhas, presumivelmente defuntos, não iriam além dos acontecimentos até 1890. Era o grande senão de Camilo - disporia de prova apenas sobre o brasileiro garrido, exuberante e rico. Camilo articularia ferozmente contra os seus casamentos mas deixaria de lado os juros de mora - omitindo o seu regresso ao anonimato.

Por isso o apreciável lote de fantasmagorias que deixou para o futuro. Essa a minha safa, a prova abundante carreada para os autos, a impressão causada no julgador (eu que nunca li uma gramática anotada, quanto mais um artigo da especialidade...), o músculo da realidade actual torcendo os ossos de uma época estranha e até desproporcionada.

Não se desse o caso de os brasileiros regressarem sós e normalmente mais aptos a dotarem as sobrinhas do que a casarem eles próprios. Desembarcavam arfando, creio, já falhos de sorrisos, estenuados, num derradeiro assomo de forças para as suas excêntricas e descomunais casas.

Para quê? Chamados os herdeiros, aqueles gradementos e estuques, os varandins e as palmeiras, nada diziam aos batatais e milheirais do seu sempre. Assim as Décadas traziam consigo a ferrugem e a formiga-branca, o amarelo das humidades.

Ditei para a acta o requerimento final peticionando a junção de documentos. Esses tremendos casarões estão quase todos em ruínas, revela-o a arte da fotografia, que Camilo não alcança. Quem foram os seus proprietários? Qual a sua história? Alguém acode a jazigo esquecidos, soalhos inultrapassáveis, vestígios de jardins e caramanchões, papeis idos no vento? À falta de nobiliários de plebeus? - Justiça, Meritíssimo!!!

A sentença foi proferida de imediato. Os brasileiros tinham razão, são uns sofridos que urge reabilitar, reidentificar. Iam os seus detractores condenados nesse encargo.

Mas Camilo, terrível, recorreria sempre, mordaz, insistindo ad nauseam nas suas calças amarelas, nos dedos carregados de ouro, nos papagaios e macacos, em qualquer negrinha que trouxessem de além-mar.

 

 

Quilómetros de almocreve

João-Afonso Machado, 13.01.18

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As coisas tornam-se por vezes fastidiosas. Moles, muito em forma de caracol. Talvez até de cornucópia, se o andar dos quilómetros entra em artes de saber e investigação, quilómetros chifrudos, marrando obsecados sempre o mesmo tema.

Quando os quilómetros se tornam curtos, circulares. A entontecer os dias. E invariavelmente em marcha atrás. Monotemáticos em fotografias impostas, quase sem vagar para rabiscar um bom desenho. Ainda por cima, quilómetros caseiros que jogam às escondidas nos quintais dos vizinhos. E de olho no relógio, quilómetros contra-relógio, com prazos limite e horas severas de almoço, curiosíssimos, torrenciando perguntas.

Isso tudo para quê? Eles um dia dirão. Quando, enfim, deixarem de ser vistos rabichos de quilómetros a sair os arquivos públicos, de óculos e apontamentos, quilómetros pesquisadores fora do pó das estradas; e delirantes por a estas nuvens regressarem.

Ou mesmo se transformarem em quilómetros aéreos, lá nas alturas azuis-celeste. Ou cavalgarem uma dezena de cavalos de potência, tudo em busca de novas visões em outras larguezas. Quilómetros de olhos esbugalhados e a alma a palpitar. Não diria quilómetros sem freio, mas ainda menos quilómetros trazidos à arreata ou em trote travado, a buscar uma encomenda mais, uma pista, com utilidade para a sua mercancia.

 

 

"Vagares de bolo-rei"

João-Afonso Machado, 11.01.18

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Este ano o bolo-rei foi por encomenda. Nunca em tais propósitos me aventurara sozinho. Faltou mesmo, apenas, deixar já as minhas instruções para o pão-de-ló – a Páscoa galopa para cá desabridamente.

São coisas destas que transformam as Festas num foguete. Não ando muito a par do assunto, mas admito ainda subsistam as rabanadas caseiras. E os mexidos e a aletria. Mas nada me admirava não fosse tudo já comprado no hipermercado, em boiões ou caixas de plástico, como o bolo-rei vai surgindo nas montras, selado por um código de barras, carregado de frutas cristalizadas e tão fraquinho de substância…

Por isso o Natal perde sabor e acelera. O Ano Novo é um golinho na flute (ninguém gosta de champanhe, mas lá terá de ser…), e, num segundo, os funcionários da Câmara Municipal vão cidade fora, tristemente desmontando as iluminações próprias da quadra. Próxima etapa: o Carnaval.

Mas, desta feita, reduzi na curva. O frio cortava, subsistia a ameaça do piso gelado, escorregadio… E para a passagem do Ano fui a uma confeitaria das antigas contratar, de véspera,  a aquisição de um bolo-rei. É claro, a primeira dificuldade consistiu em localizar uma dessas abencerragens.

Lembro-as, sumindo umas atrás das outras. A Bezerra, a Mouzinho, a Vieira de Castro. Casas de outras eras, de outro apuro. E outras mais haveria, certamente. Quantas restarão? Vi-me obrigado a averiguações, escutei o parecer de famalicenses profundamente embrenhados e conhecedores do território.

Não valerá a pena identificar a oficina de arte a cuja porta fui bater. Basta dizer, é ali para os lados da Praça da Rainha D. Maria e não ocupa um espaço gigantesco, sobretudo se chove e a esplanada torna-se não utilizável.

Assim que entrei, tomei logo o pulso ao aviamento da confeitaria. Não se manifestavam alterações de fundo ao balcão mas, subindo os degraus do salão de chá, aquilo parecia um hospital de campanha. Uma mesa enorme, enfarinhada, ençucarada… As enfermeiras de verde, com gravata, quase umas voluntárias de Pyongyang. Por ali a fora, uma fila imensa de doentes – como eu – do bolo-rei.

Finalmente atendido, inteirei-me da terapia adequada – o bolo, cozinhado com o peso recomendável, a hora certa para o buscar no dia seguinte. Para nossa desgraça, as leis impostas pelo invasor europeu proíbem o brinde e a fava, não vá a gente engasgar ou espetar a garganta. Perderam-se, de uma penada, aqueles crachats que tão bem ficavam na lapela dos casacos!

Foi, todavia, o bastante para um jantar e um serão com outro gosto. Há já quantas vidas eu não degustava – palavra hoje de primeira ordem e serviço – uma massa assim, sobre o húmido, com frutos secos e uvas passas, dessa que não esfarela toda? E a perfumar esta reencarnação um cálice – e outro… - de vinho fino, esquecendo por momentos estarmos já praticamente na Páscoa, com um pé no Santo António, assim como quem mergulha de cabeça no Verão. Isto é: quase no Natal outra vez.

 

(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 11.JAN.2018)

 

 

 

Paroles

João-Afonso Machado, 09.01.18

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A parte maior do meu mundo é construída de palavras. De palavras escritas, bem entendido, porque as ditas são demasiadamente estranhas para caberem nele. Terá havido uma única alma que eu conhecesse assim entender. Era silenciosa por natureza - os seus sentimentos expressava-os por actos, jamais por discursos. Isso e os cães são uma garantia presencial. Uma eternidade do coração.

Nem sei porque assim escrevo, hoje em lapiseira carregada de saudades. Não sei - não porque não saiba o que quero dizer, somente por saber nada será alterado. O outro mundo gira nesta rotação e um simples tom de voz modifica as intenções, as afirmações, os gestos até. Como se a um perdigueiro não bastasse o esticar do queixo para ele saber o rumo a seguir.

Algum ressentimento? - Zero! Apenas a curiosidade de averiguar onde se pode chegar, e a experiência adquirida de, verbalmente, se colher muito mais ouvindo do que semeando palavras. Porque se - voluntariamente ou não - há excessos delas, há também o consequente mal estar. E a aplicável regra de ouro: falei de mais, entusiasmei-me, tout court; falaste de mais, mentiste.

Assim provido destes conhecimentos, assim desnecessitado de remediar... Tareja, falam-te os meus olhos, queda-te aí.

 

 

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