Devoções e tentações
Não sei porquê, arde-me na cabeça esta ideia de espreitar Boticas, a ver se ela já foi ao armário buscar a samarra. Os da Golegã sim, mas isso são vaidades do S. Martinho, e em Boticas não, só se o frio tiver chegado mesmo. E o frio é sempre o calor da alma, com as pernas voltadas para a lareira, e do coração, de cachimbo entre as mãos, a reviver o melhor do passado e a soletrar todas as palavras do seu futuro.
Depois Boticas, que conheci uma rapariguinha, há de se ter tornado uma mulher madura. Possivelmente em mini-saia ousadíssima, algo que quase todas as paróquias não têm rabo para usar, ao invés das paroquianas, dizem, por causa da alimentação actual.
Enfim, Boticas dista pouco de Montalegre e de uma série de lugares termais - Carvalhelhos, Vidago, Pedras Salgadas - tudo a querer sugerir uma monumental posta barrosã, regada com fartura de vinho, e depois o indispensável périplo por estoutras estâncias onde litros e litros de águas medicinais diluirão a carne do bovino em fluídos altamente benfazejos à saúde.
Deve ser por isso, Boticas - onde, já esquecia: há spa e outros tributos à boa forma das paroquianas - irá perseguir-me o espírito a semana toda.