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Há uns meses atrás, naquela curva do passeio junto ao mercado, sob o reclame da Taxitel, dei com um estabelecimento novo, algo tímido, ainda a despertar, nas últimas pinceladas da obra. Não lhe prestei grande atenção. Segui o meu caminho.
Fora, salvo erro, o espaço de uma drogaria. Agora aparecia com uma montra de bons vinhos, lá dentro um balcão, umas mesas e as respectivas cadeiras e um empresário que – pensei comigo – só podia ser um aventureiro.
E finalmente, certo dia, porque a porta ainda se mantivesse aberta, entrei e fui fazendo perguntas. Bebi o meu copinho de branco, ouvi a história, o projecto, mas, devo confessar, mantive o meu cepticismo.
A dita história, o dito projecto, consistiam basicamente numa casa a servir refeições simples, conquanto criteriosamente preparadas, e vinhos diversos, a copo ou em garrafa, originários sobretudo do Douro e do Alentejo. Com um alerta ainda para os melhores verdes da região de Famalicão.
O tempo foi passando e eu também, de quando em vez, por essas bandas. Curioso de ver como a coisa evoluía. Até me aventurar ao primeiro almoço e - para usar expressões de agora – tomar no palato todo o conteúdo daqueles sólidos e líquidos.
Enquanto esperava a vinda do prato, fui servido de um pratinho de um azeite de primeiríssima estirpe e um cesto com fatias de pão a embeber nele. Algo a que, em outras circunstâncias, eu preferiria um pacotinho de manteiga ou de paté de sardinha… Mas não, esse azeite fazia todo o sentido nas suas sopinhas de pão; tal como o branco fresquinho, duriense, com uma carne de porco em que o assado trocava a batata por maçã e se fazia acompanhar de uma salada excelente, variada, e muito bem “apimentada” por uma série infinda de ervas aromáticas.
Perante tudo isto, fui voltando. De início sem problemas de arranjar mesa para o almoço.
Mas só de início. Num instante a casa começou a encher e, se não quisesse comer pendurado num assento de perna alta, ao balcão, melhor seria fazer a minha reserva. Assim procedo actualmente. Porque o Porta Enxerto veleja já com vento muito forte à popa.
Porta Enxerto, pois, o novo baptizado famalicense. De seu apelido, Garrafeira – Wine Bar – Tapas. A enfeitar a entrada, uma vide que cresce por ali fora e já bota parreira que se veja; e um estradosito para umas refeições ao ar livre. Tomei o hábito de por lá passar com amigos. Os vinhos (sigo sempre as recomendações do patrão), primorosos e quase todos invisíveis no mercado. Isto é, nas grandes superfícies. O Porta Enxerto busca o Portugal vinhateiro de lés-a-lés atrás de produções de muita qualidade e pouca quantidade. A fugir às marcas comerciais, apostando no engenho desconhecido dos nossos enólogos. Com menos enfase, mais discretamente, a mesma política para os azeites gourmet também à disposição dos clientes.
Em vésperas da tão propalada remodelação do mercado municipal, eis, portanto, um estabelecimento pioneiro a modernizar o conjunto. O mérito vai por inteiro para o seu proprietário, o Sr. Hermenegildo Campos, por acaso mais um crente na ancestral e portuguesíssima bandeira nacional – a azul e branca.
Apostou… e ganhou! Está de parabéns e Famalicão deve-lhe essa casa ímpar no seu género.
(Da rúbrica De Torna Viagem in Cidade Hoje de 04.OUT.2017)