Ilusões de um pobre no cais
Num repente a Ria estava toda ali. Chegara deslizando em sons de madeira reflectidos na água. A Ria içara o velame, foi o que foi. Coisa rara de se ver.
E complicada de se descrever. A Ria esquecera o moliço e carregara-se da paz dos ocupantes do moliceiro. Por isso, havia algumas vozes brandas sobre o silêncio do fim de tarde. Uma lenta rapidez no manobrar, o precioso retoque dos reflexos na água. Felizmente a máquina fotográfica não lhe deu para emperrar. Estava gente no cais, um breve diálogo com os recém-chegados do moliceiro, tudo dentro do adequado àquele sol poente.
Dos donos severos, acrescente-se, a quem às vezes repugna o barulho dos motores.
E naquele instante foi assim. O moliceiro chegou num sulco cauteloso de pirata à noite, era madeira contra madeira e o pano sacudido pela brisa, atracou e, afora umas ordens muito imperiosas, a tripulação desembarcou feminina. Sem dúvida alguma, a Ria concentrara-se ali, o mais era estrangeiro.