Em demanda da honra perdida
Duas vezes fomos a Quintiães, Barcelos. Duas vezes ouvimos de muitas bocas nada saberem das ruínas de Aborim, nem onde eram, nem onde tinham sido. Quase sentiamos nos nossos interlocutores medo, desconfiança.
E a cartografia indicava-as ali, naqueles impenetráveis matagais.
Tudo passou a fazer um pouco mais de sentido quando, à segunda tentativa, sob os efeito do calor do meio-dia, um passante nos explicou que o dono de Aborim fazia finca-pé no segredo, impunha-o, tinha "espiões", já lhe haviam roubado a pedra do brazão da torre, ai de quem se aproximasse das suas ruínas! Mas nós, se era só para umas fotografiazinhas, que fossemos por ali, descessemos o carreiro tal, iriamos lá dar com toda a certeza.
Exceptuando o pormenor de as silvas terem comido o carreiro todo, e o calor me ter dispensado as meias, foi assim mesmo. Depois do eucaliptos, dos pinheiros e dos carvalhos e sobreiros, mimetizado no todo verde circundante, a capela, a seguir a torre, ao lado as sobras do velho solar. O «castelo» de Aborim, como o intitulou o nosso informador!
Para que se saiba, foi uma "honra". Quer dizer, uma terra com tanta importância que a justiça criminal era exercida pelo seu Senhor.
A história começa na Idade Média. Não sei se acabou ou se estamos no intervalo do filme. Mas o meu fascínio recaiu todo sobre aquelas sobras de um solar português, envolto em vegetação a modos que tropical, de onde só poderiam saír salteadores ou selvagens e pagãos, marca Indiana Jones.