Sob as luzes
Essas noites de calor fora de casa perdiam então todo o sentido. Eram uma cedência, um gesto apenas. O passado às vezes rasga de cima a baixo o presente e esvai em sangue o futuro. De tudo fica apenas a interrogação - Porquê?, porquê? - e a certeza de uma resposta demasiadamente tardia. Já sem préstimo algum. Apenas ecoando no lajedo, lenta como o arrastar dos pés, os únicos a perceber, talvez, o freio que não segura o Tempo.
Há ofertas inegáveis, ou doendo muito se negadas. Também há imagens. Relances dentro de nós. Um dia havemos de descobrir a plateia, os camarotes, o primeiro e o segundo balcões, - este espectáculo onde somos actores - um jeito anímico e animado de tudo ser o que tinha necessariamente de ser. Outra ciência, enfim, a dimensão enorme da alma e do espírito. O númeno, chamava-lhe Kant.