Da eternidade dos livros e das mãos neles
O livro condiz com o título da obra que segurou o autor, Gonçalves Crespo, na História da literatura portuguesa - Miniaturas. Ofereceu-mo um dia um grande livreiro portuense, pela amizade que nos ligava e por a sua edição ter sido custeada pelo meu Bisavô e por Eduardo Burnay. No gloriosos tempos da inigualável Geração de 70.
Falo das tais horas rodeadas de estantes e conversa. As horas a que afluíam sempre os do costume, uns mais voltados para a etnografia, outros para a literatura, outros para a genealogia... Há sempre uma pesquisa no horizonte e um pretexto para ramificar o circunlóquio até ao seu fruto, e vir de lá com o sumo. No eco das imparáveis badaladas do relógio de pé alto, palavras sentadas no deambular da tarde.
Sobreveio a doença fatal do Amigo livreiro. Apenas direi, nem por isso deixarei de me maravilhar com as suas explicações: entre duas edições do mesmo tratado ficará a eternidade dos pormenores que ele conhecia diferentes, espantosos, bem encadernados. Os livros não morrem. Quem sabe lidá-los também não.