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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

O Sr. Camilo hoje não está

João-Afonso Machado, 06.01.17

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Foram duas semanas sem tréguas, a pena num vaivém infrene entre o tinteiro e as páginas com dedicatória e autógrafo e todos os exemplares numerados. Um monte maronês deles. E o rapaz dos fretes às voltas com os envelopes, as entregas no posto do correio, os registos, não ocorram os temidos assaltos, ora extravios.

Enfim, a pilha de livros sumiu. Totalmente.

Camilo levantou-se satisfeito. Olhou a secretária com um olhar de adeus. Espreguiçou-se a abraçou o sol. Também os seus amigos e correspondentes hão de estar agradados com o labor e a elegância das suas epístolas. Pequenas e incontáveis ilhas povoadas de ironia, tanto quanto do fatalismo (entre o resignado e o choroso) ultra-romântico.

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Que é tudo o que Camilo é - um eterno Camilo, eternamente velho e idoso. Macerado. Por isso, desculpavelmente, um carrancudo. Agora descansando na varanda - a acácia do Jorge... - entretido com os seus cães.

 

 

Parabéns, um beijo grande

João-Afonso Machado, 04.01.17

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No jardim onde colhemos o teu nome

entre muitas, tantas cores

que são o riso das flores,

sopra morna uma aragem de saudade.

 

Sempre e sempre

com a constância da tua fé

na firmeza da Verdade.

 

(in Margarida, DG Edições, 2010)

 

 

 

Diário azul de bordo

João-Afonso Machado, 01.01.17

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(De hoje, 1º dia de Janeiro do ano de 2017)

Partimos. Trago ainda nos sentidos aquele desatracar lento e branco como um boi charolês, o seu mugir preguiçoso agudo, a entoação sublime da despedida, quase um arrepio, o vinco angustiado de um vagar repentíssimo do nosso mundo para o mundanismo.

Tudo notas despropositadas. Navegamos já os primeiros passos de azul, há para trás as miudezas dos dias - chamemos-lhe «o passado»... - e só o sentido do azul é agora a bússola, na rota das estrelas outra vez. Completamente longe do Tempo. ao leme fiável das ideias estiradas em chaise longue ou explorando os mil recantos do paquete, deste barco imenso, cosmopolita, o jardim onde saramos nos lampejos felizes da sempre tenager imaginação.

Tornar-nos-emos mil azuis. Aportaremos nos mais garridos. Sei que haverá uma orquestra, um baile, o espírito valsando eternamente no compasso certo das emoções. O cruzeiro só agora começou e além, depois da barra, - não te preocupes... - será ainda e sempre azul.

Azul chão, soprado pelos violinos, a orquestra toca, de novo o arrepio, a oscilação do mundo e do mundanismo (regressaremos, pois!) a derradeira noite, a despedida, as estrelas sempre - lantejoulas já sem espaço na mochila... - uma súbita ondulação que marulha apenas nos corações.

 

 

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