Diário azul de bordo
(De hoje, 1º dia de Janeiro do ano de 2017)
Partimos. Trago ainda nos sentidos aquele desatracar lento e branco como um boi charolês, o seu mugir preguiçoso agudo, a entoação sublime da despedida, quase um arrepio, o vinco angustiado de um vagar repentíssimo do nosso mundo para o mundanismo.
Tudo notas despropositadas. Navegamos já os primeiros passos de azul, há para trás as miudezas dos dias - chamemos-lhe «o passado»... - e só o sentido do azul é agora a bússola, na rota das estrelas outra vez. Completamente longe do Tempo. ao leme fiável das ideias estiradas em chaise longue ou explorando os mil recantos do paquete, deste barco imenso, cosmopolita, o jardim onde saramos nos lampejos felizes da sempre tenager imaginação.
Tornar-nos-emos mil azuis. Aportaremos nos mais garridos. Sei que haverá uma orquestra, um baile, o espírito valsando eternamente no compasso certo das emoções. O cruzeiro só agora começou e além, depois da barra, - não te preocupes... - será ainda e sempre azul.
Azul chão, soprado pelos violinos, a orquestra toca, de novo o arrepio, a oscilação do mundo e do mundanismo (regressaremos, pois!) a derradeira noite, a despedida, as estrelas sempre - lantejoulas já sem espaço na mochila... - uma súbita ondulação que marulha apenas nos corações.