Miranda do Douro
Ainda não será o Doiro de Torga, é mais estreito e comprimido, mas o Penedo Amarelo é uma reluzente pertença dos espanhois para regalo dos portugueses. Estamos em Miranda, espreguiçando um fim de tarde no mirante sobre o rio estático, no fundo da ravina, como se fora já do alcance do som.
Exactamente o oposto do que vai sucedendo algo adiante, onde o comércio de tudo um pouco floresce e agita os passantes. Fala-se português e castelhano quase meio por meio, e a diferença chama-se o orgulho mirandês, que é a lingua só de lá.
Depois voltamos a lugares de desalento e revolta, voltamos ao dia em que a cabeça da Diocese foi transferida de Miranda do Douro para Bragança, como se a Sé pudesse ser levada numa padiola para outro sítio. Daqui só saiu a sacristia, dizem os mirandenses...
E vamos ainda à nunca reedificada praça forte, ouvindo agora mesmo o eco da explosão do paiol na setecentista Guerra dos Sete Anos. Eu gosto das torres mais altas, inteiras ou não, em que a bandeira da República ficou esquecida algures cá pelo chão. As terras, sofrendo muitos revezes, calham bastante serem eternas.