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Não sei se ainda resistem aos calores em que o mundo vai esturricar aquelas impenetráveis manhãs de nevoeiro em Vila do Conde; quando a ronca da Póvoa roncava insistente, aconselhando aos banhistas um passeio pelo rio, o jardim, a televisão, a cozinha, as compras na vila, enfim, tudo menos as gélidas areias da praia.
E a Bento de Freitas conformava-se e vestia um casaco de malha. Ia beber um café e ler o jornal ao Bompastor. Ou jogar futebol no Ténis, tratando-se da sua ala juvenil. Se não se pusesse à janela, assistindo ao ziguezague das peixeiras de canastra à cabeça, agarradas aos batentes das portas de um lado e do outro da rua.
Até que vinha de algures, desembaraçadamente, um pedalar de bicicleta no empedrado, o guiador firme e a bagageira diante dele: - Bom dia, tia [.]é! - Bom dia, filho, bom dia para ir ao mercado!... - E logo o bólide desaparecia na densidade do ar, num frenesim de campaínha, como se fugisse às pragas do diabo. Não demorava, uma outra bicicleta descia da vila, pachorrenta, muita trangalhadanças, sempre bem disposta: - Olá, tia [.]é! - Um largo sorriso de quem não vê os anos passar... - Olá, olá! - e as rodas, o selim, tudo aquilo a chiar Bento de Freitas fora, adivinhava-se a caminho de alguma visita, afazeres de um verão coxo de sol.
(Quem seriam as velocipedistas? Ponham os de sempre da Praia as consoantes que completam os seu nomes monossilábicos... Vila do Conde era assim, então, os automóveis estacionados, fartura de lugares vagos, e as bicicletas um apetrecho tão urgente quanto os fatos-de-banho. Em certos Agostos, até mais...).