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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Por aí...

João-Afonso Machado, 30.06.16

PONTE.jpgTrago no bolso uma viagem inteira e o mistério da altura que nos sobrevoa em esporádicos ruídos do início da noite. Águas tranquilas apontam o fim da nossa rota e a ausência de tempo parece bem visível na escuridão que vem aí. Junto à amurada todos juraram jamais atracar. Explica o comandante de bordo, nem podia ser outra a leitura das cartas - a da rota sem fim.

 

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 27.06.16

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Eterna a condição do azul. A única cor possível se a alma for, como deve ser, colorida. Sempre presente, assim na chegada como à partida - azul até ao sonho e às lágrimas, agridoce travo de vida. Somos azul como somos água e confiança e mar e vontade de ir. Em volta do mundo. 

 

 

Puebla de Sanabria

João-Afonso Machado, 26.06.16

PUEBLA DE SANABRIA.JPG

As pontes e o horizonte indicam as rotas do mundo depois da siesta. O morro acastelado é cabeça de comarca e parece não dar pelo Tempo. A aparição, ao longe, aproxima.TEMPLOS.JPGHá a fortificação e lugares óbvios de Religião de olho em histórias medievais, na rudez da Reconquista. Puebla de Sanabria nasceu da pedra, aquece e arrefece com ela. Os automóveis também descem as ruas em degraus e há becos nem para nós. Almas piedosas frequentemente lembram-se do verde e mesmo de outras cores.

.FRESCURA.JPG

Não se avistam elevadores nem alumínios. Apenas histórias de lobos, a Comunidad de Castilla-Leon firme como se a fronteira andasse distante e o silêncio inteiro de uma tarde de recantos e sombras pensativas.

 

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 25.06.16

NEBLINA.JPGA ancestral firmeza da neblina. Inabalável, sem alguém assim forte e capaz de remover. Uma parede eterna a separar dois mundos. Quando não, uma cortina. Uma viagem, apenas, como esse misterioso transporte que nos aguarda para um dia. 

 

 

Gente realmente importante

João-Afonso Machado, 24.06.16

TASCA ZÉ TUGA.JPG

Está de frente para a serra do Montesinho, junto à saída da Cidadela de Bragança. É um lugar de passagem, Espanha é logo ali. Estacionam matrículas de nacionalidades diversas, grupos de motards... É sobretudo um lugar de paragem.

E um poiso de «petiscos, vinho e conversa», como se inscreve na tabuleta da Tasca do Zé Tuga. Cá fora, grelha-se e assa-se. Depois é a esplanada e o interior fresquinho, catita. A posta tem a marca da casa, mas em viagem assenta mais leve o garnizo - um garnizé por boca, escancarado em cima do assador -  e uma salada russa como acepipe. E a conversa também se instala à mesa, além dos perdigueiros (com direito de entrada) e da pesca no Sabor, creio que qualquer outro poderia ser tema.

Luís Portugal já veio a Lisboa ganhar uns prémios culinários e apresentar na televisão as suas proezas gastronómicas. Depois tornou à terra. A sua Tasca aproxima Bragança, lá no alto, das tardes folgazãs de que todos gostamos.

 

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 23.06.16

FORTALEZA E FOSSO.JPG

O emparedar do silêncio. Entre a solidez da pedra e a azul transparência das águas, ao longo do tempo, igual ao seu deambular. E para lá de todas as distâncias verdadeiras, as mesmas que o espírito tarda em alcançar no lugar em que se escondem na História. Como se tudo fosse nevoeiro, até o ridente sol dessa memória.

 

 

"Responsabilidades"

João-Afonso Machado, 23.06.16

BAILARICO.JPGSubi as escadas do Palacete Trovisqueira (o actual Museu Bernardino) até ao patamar onde enche a parede o inolvidável retrato de Sua Ex.cia, o Presidente da República, recebendo os humildes cumprimentos do Filho de Deus, enquanto uma infinita fila de prelados, párocos, frades e freiras trilha caminhos suspeita-se que levando aos horrores do enxofre e das chamas. É um quadro imponente, em boa e evangélica verdade vos digo, merecedor de multiplicação, como o pão e os peixes, e distribuição por toda a nossa deplorável auto-estima. A enviar com urgência à lusitana expedição futebolística em terras gaulesas…

Enfim, Bernardino, o anfitrião, mirou-me logo à porta, a mim e à minha bandeira azul-branca em riste, desagradou-se-lhe por um só esgar o semblante, e sempre cordial convidou-me a entrar, que ficasse á vontade, estava em casa. Mesmo porque a minha missão era oficial, eu integrava o júri de rua das Marchas Antoninas deste ano.

Uma honra! E a oportunidade de conhecer melhor os meandros deste acontecimento. Qualquer coisa que envolve muito empenho, muito entusiasmo dos participantes. E aceso despique, julgo acentuado no correr dos anos todos desta já tradição.

A vista do desfile lá do cimo da varanda do palacete é assaz sugestiva. Fonte de boas fotografias, mais não seja pelo ângulo em que são tiradas. Há um alcance obviamente maior, a noção exacta da profundidade das marchas, dos cuidados coreográficos em que decorreram meses e meses preparatórios. E mesmo da natural alegria dos intervenientes, esses que cantam, dançam e chamam o público a cantar e a dançar com eles. Porque os passeios estavam repletos, as Antoninas têm aqui, realmente, o seu momento mais alto. Agora que ando com a mania de Camilo, só me ocorria o epíteto de “trigueirinhas” para tanta moça bonita gingando de mãos às ancas, muito sabedoras daquelas quadras todas das marchas… Do que tudo nunca me apercebera, tal o meu caseirismo nestes episódios de multidões.

Fui espreitando, fui votando. Há freguesias e associações do concelho já com lugar cativo nas Antoninas famalicenses. Porque não a emergência de outras? Se a nossa terra exulta com o espectáculo…

A Rua Adriano Pinto Basto ficava, entretanto, para trás. Votei em consciência, como é usual dizer (e proceder). Este ano o desfile terminou no jardim da Câmara Municipal. Dava ainda para aí assistir à encenação final… Ganhou a trupe de Ribeirão, soube-se no dia seguinte. E à despedida das minhas funções no Palacete Trovisqueira, outra espreitadela mais ao quadro monumental, ao interminável solilóquio, onde Cristo permanece, há não sei quantas décadas, ouvindo paciente a sageza de Bernardino, o político e pedagogo.

- Saúde e fraternidade! – atirou-me este, já no descer do escadório. – Obrigadinho, o mesmo para si, continuação... – pois que havia eu de responder-lhe? 

 

(Da rúbrica De Torna Viagem, in Cidade Hoje de 23.JUN.2016)

 

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 21.06.16

OFIR AO LONGE.JPG

Ainda há lugares no mundo. Ainda o mar dá e tira, foge e retorna debaixo do azul dos dias de agora. Vamos. Até ver, o caminho é por aí, os olhos postos na marcha do guia Tempo. Um especialista em percursos cíclicos sem retorno ao ponto de partida.

 

 

Coelhos bravos de estimação

João-Afonso Machado, 20.06.16

LÁPAROS.JPG

Há um mundo novo no limite sul do Parque da Devesa. O produto de muitos amores sorrateiros para lá da rede, qualquer coisa entre os matos alentejanos e Londres ou Nova Iorque fundida em V. N. de Famalicão. Em suma, não são esquilos, são coelhos bravos. Centenas e centenas deles.

Tosam a relva, os laparotos mais novos pouco falta para virem comer à mão da gente. Desarmam-nos o pensamento, fogem com a espingarda para longe dos nossos ímpetos e somente Egas, enlouquecido, é a força de um motor de avião querendo descolar atrás deles. Não pode ser, - explico - nem sequer faz parte do teu karma.

Espantosamente não adoecem dessas hemorragias que desvastam os coelhos certos no lugar certo à hora certa da caçada. Estes são imortais, ano após ano, enxertados na paisagem deste lado. Porque se fosse do outro, movimentos esquivos entre os codessos e os silvados, tiros de palpite, ai meu Deus!, seria até os canos da arma incandescerem quase...

 

 

Por aí...

João-Afonso Machado, 18.06.16

ILHEU CASTELO.JPG 

A muralha atacou. Cuspiu e vociferou. Foi ao contrário do que é. Nesse dia houve choro e incompreensão. Porque teria de ser assim, se muralha é proteger, dar acolhimento? Tardiamente o sitiado percebeu perdera a batalha. Debalde chorou. Mas, num último gesto, ergueu a espada e dispôs-se a dar outro rumo à guerra. Doravante pelejaria apenas pela paz. Na mais tola confiança de que a vitória final seria de todos.

 

 

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