Felipe VI, a referência de Marcelo
De Ramalho Eanes fica a memória de um homem probo, austero, pródigo somente nas muitas e rebuscadas palavras em que se embrulhava para exprimir qualquer simples ideia. Profundamente ignorante, coitado, confiava-se ao núcleo mais politizado do Conselho de Revolução, sem dar um passo que não lhe perguntasse - À esquerda?, mais à direita, volver?
Soares & Sampaio foram vinte anos de jacobinismo puro e duro. De mandatos convergindo magneticamente para a hegemonia socialista, com bem, ou menos bem, conseguidas estratégias sempre disfarçadas no discurso da "ética republicana".
Depois chegou a falta de jeito de Cavaco. Muito aparolado, medroso, hesitante, pouco arguto. Presa fácil da bem orquestrada histeria da Esquerda. A História, agora usualmente escrita por maçons, se encarregará de o colocar na cauda do pelotão, muito atrás das sobreditas divindades.
Enfim, Marcelo. O professor, o analista/comentador, inveterado criador de factos políticos, e o cristão, homem de causas sociais menos televisivas, uma inteligência que ninguém questiona. Qual das suas facetas prevalecerá?
Convenci-me da sinceridade de Marcelo propondo-se manter equidistância dos partidos e contribuir, quanto possa, para a estabilização do nosso presente político. Acredito que cumpra a sua obrigação de não guerrear António Costa, isto é, não se transfigurar em Soares & Sampaio de sinal contrário. Agindo como Felipe VI numa Espanha tolhida por um complicadíssimo resultado eleitoral.
Simplesmente... a Esquerda não lhe consentirá tal. Num regime republicano, a dicotomia Esquerda/Direita chega sempre à Chefia de Estado. Razão porque esta nunca se traduz em representação nacional.