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MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

MACHADO, JA

A minha escrita, a minha fotografia, o meu mundo

Modos de lendas verdade

João-Afonso Machado, 25.01.16

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As pontes sempre foram o sonho, contam os séculos todos que separaram Frades e Vila Nova entre ravinas que nem os animais se atreviam a transpor enquanto sonhavam também. E é nas serranias que eles, os sonhos, voam mais alto, duradouros como penedos e o eco das águas vindas de todos os céus do azul eterno e de cada fraga. Por isso, por não acabarem, se transformam os sonhos em realidade.

Erguidas as pedras sobre as pedras do Rabagão, assente e comprimido o tabuleiro da ponte, ainda assim o sonho trinta vezes se fez amanhecer desiludido, vergado à fraqueza do saber dos homens, o sonho caira da ponte abaixo, e a ponte com o sonho, aquilo era ruindade do Diabo e uma voz troava nas encostas - Jamais! Jamais! - Então será que o sonho - murmurava o povo -  será que o sonho se definha em sonho só?

Erguidos os olhares a Deus, em volta do Abade, não demorou o retorno à obra, a ponte crescendo em granito cimentado no suor da vontade (- Crede, crede!  - ajudava o Abade) - ganhando dimensão e sentido, rude elegância de formas, por fim uma travessia firmada e salmodiada. Deus contra o Diabo, ganhara Deus, ganharia?, eis que a ponte treme, fraqueja das pernas, empena, entorta, vai cair.

- Crede, crede! - voltou o Abade, ao lançar sobre o lagedo da ponte o pão enorme, roliço, a abençoar o triunfo da vida sobre a fome. E os pilares ferraram os dentes nas margens e seguraram o arco. A ponte não caiu. Envergonhado, humilhado, vencido, o Diabo desapareceu. Dele restou apenas o esforço inútil dos seus ombros marcados na curvatura da ponte triunfante por todos os séculos contados do sonho realizado.