Sem ângulo
No termo da minha alcaidaria, o instante eterno da comunhão do Vizela no Ave, ainda umas voltas antes do oceano. Seria a imagem, a braveza das águas, um eco sem fim. O contraponto de momentos mais quedos, a montante, de tempos livres para encher de trutas, de levadas e açudes, uns atrás das outras, moínhos, limpidez dos fundos a aves tentadoras. Corvos marinhos no ar, como bombardeiros ao longe. Os rios são dos cursos mais fecundos da nossa vida, pelo menos enquanto não damos cabo deles. Como tristemente já aconteceu no termo da minha alcaidaria.
Encerraram as margens na falência e na ruína das fábricas, sob o betão das pontes que os ocultam, não sei se por maldade se por vergonha das cores espumosas, dos plásticos, de uma lavagem prometida às suas águas mas jamais cumprida. Afinal, há instantes eternos de dor.